Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Mall riu-se, vendo na filha a criança impulsiva que ela própria havia sido, e prometeu que
iria assistir.



  • Esse poder que sentiu – disse em voz baixa a Frances, para que mais ninguém ouvisse. –
    Pode ser parte das suas armas. Também pode fazer com que outros o sintam. Na verdade, já vi
    homens a observá-la com uma expressão de anseio quando sai de algum aposento. Está na altura
    de lhe ensinar a servir-se dos seus dons, sobretudo agora, que descobriu esses sentimentos em si
    mesma. Alguma vez viu uma mulher levar um cavalheiro a abrir-lhe uma porta, servindo-se
    apenas dos olhos?
    Frances riu-se e abanou a cabeça.

  • É fácil, quando se aprende. Vou arranjar um cavalheiro para poder praticar a sua arte com
    ele. Na verdade, o irmão do meu marido, o Ludovic, virá cá hoje à tarde, com o seu fardo
    enfadonho e respeitador, o meu sobrinho Charles, que lhe sucederá como Seigneur d’Aubigny.
    Preparemo-nos para os receber. Vou ensiná-la a abrir uma porta apenas com os olhos. E agora
    vou ver a minha filha a montar com um rei. A Mary é uma criança sólida e não um objeto de
    beleza. É bom que aproveite enquanto pode, pois não me parece que a experiência vá repetir-se
    quando ela for crescida.

  • Mall! Que vergonha! Que tipo de mãe diz uma coisa dessas?
    E assim, horas mais tarde, Frances Teresa Stuart foi instruída na arte de baixar os olhos azuis-
    acinzentados e olhar para cima através de pestanas densas, olhando em seguida para a porta
    que, para seu grande divertimento, Mall insistia que se abriria sem que ela proferisse palavra.
    Frances estava a tentar ensinar o papagaio mudo a falar – que entretanto se tornara uma
    prenda definitiva de Minette – sem obter resultado algum, fosse em inglês ou em francês, quando
    os convidados chegaram.

  • Mistress Stuart – disse Mall, fazendo uma vénia formal ao cunhado –, permite-me que lhe
    apresente o meu familiar, Ludovic Stuart, Seigneur d’Aubigny?

  • O prazer é todo meu.
    Frances ficou surpreendida ao detetar um sotaque escocês fortíssimo em alguém com um
    título tão francês, um cavalheiro esguio e ascético de cabelo ruivo curto e uns penetrantes olhos
    azuis, que se inclinou para lhe beijar a mão. Mas esse choque nada foi, comparado com o que
    sentiu quando ele lhe apresentou o seu companheiro.

  • E este é o meu protegido e sobrinho, Charles Stuart, que tem a felicidade de partilhar o


nome do rei, embora nenhuma da sua fortuna ou insígnias!^3
O jovem alto de cabelo arruivado que a salvara dos rufias deu um passo em frente e beijou-
lhe a mão com uma formalidade distante, sem fazer referência alguma às circunstâncias do
encontro que haviam tido e decerto sem qualquer evidência do olhar de desejo franco que tanto
a agitara.



  • Boa tarde, minha senhora. Estou encantado por conhecê-la.

  • Vive em Paris? – perguntou-lhe Frances, controlando a voz.
    Ele parecia tão diferente naquele dia, tão rígido e formal. Nunca suspeitaria do ardor que
    existia sob aquele exterior patrício, caso não o tivesse visto por si mesma.

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