Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

qualquer jovem dama que eu tenha conhecido.
Mary sorriu com tanto prazer que Frances se comoveu. Era óbvio que a mãe de Mary era tão
avara com palavras de afeto como era sovina com as suas moedas.
Apercebendo-se de súbito de que tinha muita fome, Frances observou a refeição que tinha
sido servida e começou a comer com vontade. Havia uma variedade tentadora de rosbife e


ganso, ensopado de cabrito, tarte de lampreia ou de espinafres, e, para a sobremesa, sillabubs^21
cremosos e outros doces.



  • Com o receio que há de contágio, quando for aos aposentos da rainha – queixava-se Cary
    Frazier –, ela vai insistir para que eu lhe arranje profiláticos, pois sabe que o meu pai é um dos
    médicos da corte. Realmente, anda mesmo histérica com esta questão. Houve um surto de peste
    quando ela era criança e o tio de quem mais gostava morreu, pelo que agora deseja proteger o
    rei. O rei! – riu-se. – Que tem oito médicos, para além do meu pai.

  • Ela não confia nos médicos ingleses – murmurou Mary. – Ouvi-a perguntar às aias
    portuguesas se sabiam de alguns remédios do seu país.

  • Bem, realmente... E se ela deseja proteger o rei, deveria impedi-lo de ir divertir-se na
    cidade com o duque de York e as rameiras conhecidas.

  • Não deveria referir-se nesses termos a Lady Castlemaine – interveio Jane La Garde, e todas
    começaram a rir.

  • Então a rainha teme que esta enfermidade seja mesmo a peste? – perguntou Catherine
    Boynton, de súbito ansiosa.

  • O Conselho do Rei enviou dois médicos à casa de Drury Lane para que verificassem –
    informou Mary. – Foram eles que deram a ordem para que a casa fosse fechada.
    Todas a fitaram.

  • Como sabe?

  • Disse-me o mouro da rainha. Aquele que é pajem dela. Ele estava com muito medo, porque,
    na terra dele, a peste é um mal recorrente. Disse-me que a rainha reza e acende velas, para pedir
    perdão a Deus pelos hábitos pecaminosos da corte.

  • O meu pai não está convencido de que seja peste. – Cary encolheu os ombros. – Mas se for,
    então todos partiremos. A única resposta à peste, diz ele, é fugir dela para o campo.
    Frances voltou a pensar no pranto das pessoas trancadas na porta entaipada com a cruz
    pintada, em St. Giles.

  • Todos? – perguntou Frances, irritada com tal conselho. – Refere-se também aos pobres e
    aos andrajosos?
    Olharam todas para ela.

  • Bem, não... – respondeu Cary, irritada. – Referia-me à corte.

  • Julgo que Mistress Frazier não pretendia mostrar-se insensível – interveio Jane La Garde,
    sempre conciliadora –, e apenas dizia que não devemos entrar em pânico e perder a fé em Deus,
    pois o rei e as autoridades agirão, caso seja necessário.
    E, a bem das boas maneiras, deixaram o assunto ficar por ali.
    Por fim, o clima socorreu os londrinos. Um frio tão brutal que ninguém desejava aventurar-se

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