Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

de valeriana e arruda. Mirra ou víbora em pó. Os charlatães tecem elogios à verbena,
proclamando que o diabo a revelou como uma medicina secreta e divina.
Riu-se da estupidez da populaça que os seguia.



  • E a senhora?

  • Eu observo os outros. Os ricos partem e raras vezes são acometidos. Os mercadores que
    têm navios embarcam com a família e ancoram no rio. Entre os que têm de ficar, os que se
    mantêm isolados são os que se dão melhor.

  • E quando sucumbem?

  • Há tratamentos. Suar é o melhor, para que a infeção venha à superfície. Tenho um amigo
    doutor que sobreviveu e me dá conselhos. Diga à sua amiga que queime incenso e resina de
    lariço, que tenha as lareiras acesas com enxofre. – O sorriso voltou ao seu rosto enrugado. –
    Poderá não evitar a peste, mas servirá para a acalmar e mal não fará, ao contrário do que pode
    acontecer com outros remédios.
    De repente, ouviram prantos na rua e, quando espreitaram, viram que uma casa ao fundo da
    estrada estava a ser entaipada, com as ocupantes, uma jovem e uma menina, a chorarem a uma
    janela do primeiro andar. – É só uma criada jovem que está doente – gritava-lhe a mulher. – E
    nem sabemos se foi realmente contagiada! Agora pereceremos todas aqui cerradas!

  • Então – a viúva abanava a cabeça com tristeza – a inquietação chegou à cidade.

  • O que pensa das casas entaipadas?

  • Não as considero úteis. Viram os vizinhos uns contra os outros. Os ricos pagam ao vigia
    para que vá por outro caminho para poderem fugir. Outros subornam o médico para que diga que
    se trata de febre maculosa e não de peste, e assim podem sair. Seria melhor levar o doente para
    o hospital da peste e deixar os outros em liberdade.
    Frances esperou enquanto a viúva pesava o incenso e o enxofre, antes de partir um pedaço de
    resina de uma amarelo ambarino que conservava num pano. Depois embrulhou tudo e prendeu-o
    com um cordel.

  • Boa sorte, senhora. Espero que tudo corra bem consigo e os seus.
    A rainha ficou agradecida pelos remédios e começou logo a queimá-los, até uma névoa
    aromática satisfatória combater o fedor do enxofre a arder.

  • Vês, Guiné – disse ela ao rapazinho –, aquilo não vai deixar que a infeção venha para aqui.
    Não conseguirá ver com tanto fumo.
    Espantosamente, o rapaz perdeu o ar receoso e sorriu-lhe, cheio de confiança, enquanto, ao
    fundo, os padres e as aias portuguesas rezavam os terços e murmuravam preces intermináveis.
    Mary Lewis também aguardava por Frances, pois tinha novidades.

  • A minha mãe e o duque virão a Londres amanhã, ao estúdio do mestre Lely. Ela vai
    encomendar-lhe o retrato.

  • Deveras? – Frances suprimiu um sorriso. – Como uma deusa grega?

  • Não. Optou por uma pose mais digna, como ela diz.

  • E qual será?

  • A de Santa Catarina. – Mary estava à beira do riso. – Quer copiar a pose da própria rainha.

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