- Ainda tem as suas regras?
Mall atirou-lhe uma almofada. - Sim, tenho, obrigada, jovem senhora.
- E voltaria a percorrer esse caminho?
Frances apercebeu-se de que estava chocada por alguém com quase quarenta anos poder
encarar aquela ideia de bom grado. - Não se preocupe. Preferia usar óleo de arruda e salsa a ter outra criança, embora me
preocupe que o Tom possa desejar um filho, sendo tão jovem. - Esses remédios também impedem a conceção?
A sua mãe nunca teria pensado falar-lhe daquelas coisas – na verdade, ter-se-ia esforçado
muito para impedir que lhe chegassem aos ouvidos. - Não. Para isso seria necessária maior proteção. Há cavalheiros que cobrem as vergas com
panos ou entranhas de ovelha. – Riu-se ao ver a expressão de Frances. – Ainda que eu considere
que essas coisas são uma armadura contra o prazer e não passam de teias de aranha contra o
perigo. E, regra geral, os homens detestam tais engenhos. Talvez devêssemos perguntar a Lady
Castlemaine, embora a querida Barbara prefira ter os bastardos e atribuí-los todos ao rei, quer
sejam dele quer não.
A menção ao rei fez com que Frances se lembrasse do motivo que a levara ali. Como poderia
ter-se esquecido, mesmo confrontada com a felicidade recém-conquistada de Mall? - Mall, preciso do seu conselho. O rei mandou o duque de Richmond para a Torre!
- Mandou? E de que o acusa?
- Algo relacionado com ter negligenciado os seus deveres para com a coroa em Dorset.
- E isso é verdade?
- Não sei, mas duvido. Foi logo a seguir ao outro incidente...
Mall fitou-a com os olhos semicerrados. - Que outro incidente?
- O rei encontrou-nos no estúdio do mestre Lely. O duque tinha encomendado uma miniatura
de um retrato meu. Eu achei que ele não deveria ficar com ela, que não era próprio, e estávamos
a debater-nos pela posse da miniatura quando o rei nos surpreendeu. - E agora o duque está na Torre. Bem, não chore. O meu irmão esteve lá pelo menos duas
vezes, uma vez durante o governo de Cromwell, por ter casado com a filha de Fairfax; a outra
por ter discutido de forma imprópria no parlamento. Nada de mal lhe aconteceu. – Mall sentou-
se na beira da cama. – Mas percebo a situação difícil em que se encontra. Se é verdade que o
rei enviou o Charles Stuart para a Torre por recear que o prefira, então Sua Majestade ficará
ainda mais convencido disso se tentar interceder para que seja libertado. E, contudo, o rei é
apenas um homem e não é dado a ações arbitrárias. Na verdade, muitos julgam que deveria ser
bem mais severo com os inimigos. Terá de encontrar uma forma de apelar a esse sentido de
justiça sem lhe avivar as chamas do ciúme.
Frances deixou Mall e saiu para o maravilhoso sol primaveril, sentindo-se tudo menos alegre.
A culpa era sua. De mais ninguém. Deveria ter esquecido o duque assim que ele voltara a casar.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1