Poderia criticar Lady Castlemaine, mas, como a própria tinha realçado, o que a tornaria melhor
do que ela? A única solução seria fazer um verdadeiro sacrifício.
E para isso teria de agendar uma audiência com o rei.
Em primeiro lugar, abordou um gentil-homem da câmara que, sabendo da preferência que o
rei lhe votava, de bom grado lhe disse julgar que Sua Majestade se encontrava com a rainha.
Esta, no entanto, dado que o dia parecia quase estival, saíra com várias aias para o terraço
dos seus aposentos, onde havia bancos e canteiros, e aí escutavam canções deliciosas
executadas por uma trupe de italianos numa barcaça ancorada no rio.
- Sua Majestade deu pela sua falta – sussurrou Jane.
- Estou à procura do rei e disseram-me que ele estaria aqui – respondeu Frances, também
num sussurro. - Foi para os jardins privados com o chanceler – disse-lhe Jane. – Partiu há menos de dez
minutos.
Frances esgueirou-se antes que a rainha reparasse nela e voltou para trás correndo pelos
aposentos e pela escadaria das traseiras até chegar ao jardim.
Aí estava o rei, rodeado pelos seus cães, a acertar as horas pelo relógio de sol enquanto, na
companhia do chanceler, discutia a guerra com os Holandeses e a perfídia dos Franceses.
O chanceler sentara-se num banco, com a perna atingida pela gota levantada à sua frente.
Virou a cabeça ao aperceber-se da aproximação de Frances. Esta sempre gostara do velhote e
prezava a sua honestidade, dando valor ao facto de, no meio de tantos vigaristas e lambe-botas,
ele nunca ter aprendido a polir o seu conselho para o tornar mais agradável. - E cá chegou Mistress Stuart, que vem implorar a libertação do duque – anunciou com os
seus habituais modos francos. – Já disse a Sua Majestade que esta prisão parece ter sido
motivada por despeito, mas não há dúvida de que me mandará embora com um puxão de
orelhas. Pronto, tente a senhora... talvez tenha mais sorte, com o seu rosto bonito. – Depois
lembrou-se de alguma coisa e prosseguiu num tom provocador. – Claro que foi o seu rosto
bonito o que deu origem ao problema...
Levantou-se a custo e foi-se embora a coxear, dizendo que esperava que Sua Majestade
arranjasse tempo para ir ao Conselho, já que havia uma guerra em curso.
O rei terminou calmamente de acertar o relógio. Ali, no jardim privado, tudo estava tranquilo
e silencioso, ouvindo-se apenas o som de um tordo escondido num arbusto de lilases, o zumbido
das abelhas e uma brisa que corria por entre as árvores como se entoasse uma cantiga de
embalar para o recém-nascido de alguma deusa. Era difícil acreditar que a guerra e a
pestilência grassassem do outro lado dos portões. - Majestade, eu... – começou ela.
- Como o meu chanceler me informa, veio apelar em nome do duque de Richmond.
Frances decidiu que, quanto menos dissesse, melhor seria. Limitou-se a assentir com a
cabeça. - A questão que se coloca é: porquê? Ele é-lhe inferior, em todos os aspetos. Bebe. É um
rapaz bem-apessoado, mas isso também são o Rochester, o Buckley ou até o Buckingham, mas