observando-a com interesse. – A sua mãe saberá que viaja para a cidade? Se procura rameiras
ou cervejarias, encontrará bastantes em Dartford ou Sevenoaks e será muito mais seguro.
Frances cobriu melhor o rosto e entregou-lhe o dinheiro da passagem, que foi direitinho para
um frasco com vinagre.
Na travessia, passaram pelos iates dourados do rei, que se encontravam encostados ao
paredão da doca. O comandante seguiu o olhar dela.
- Sim. E aposto que ele gostaria de entrar num naqueles e afastar-se de todos os problemas
que o assolam. A vitória de Lowestoft foi de curta duração. A nossa marinha tem ido de mal a
pior. Aqueles malditos glutões. Deviam ficar em Amesterdão a contarem o ouro que têm e a
apalparem as holandesas gordas e feias! Há quem diga que foram eles que nos mandaram o
contágio para nos arruinarem.
Passaram por Greenwich e prosseguiram em direção a Limehouse, onde Londres realmente
começava, com a vista da Torre e da Ponte de Londres. Frances fixou o olhar no Portão do
Traidor quando por lá passaram, imaginando o que teria sentido o duque quando o sargento de
armas o fizera passar por ali.
Ocorreu-lhe que, se não conseguisse encontrar Walter, poderia pedir ajuda ao duque para o
procurar.
Junto à Ponte de Londres, o tempo, que já estava quente, ficou abrasador. Saiu do bote na
doca Three Cranes e deu início ao seu percurso ascendente em direção a St. Mary le Bow.
Também ali as ruas estavam cheias de carruagens e carroças que competiam por libertar a
cidade de mais gente.
Na verdade, nas últimas semanas a cidade parecia ter mudado por completo. Nessa altura, só
havia algumas casas entaipadas, mas, desta feita, Frances via ruas inteiras cerradas e
silenciosas, fosse porque os proprietários tinham partido, fosse por terem sido encarcerados
devido à peste, com a fatal cruz vermelha. Agora só restavam vigias para impedir que
saqueadores pilhassem as casas vazias e que os ocupantes das que haviam sido entaipadas
fugissem.
Até o próprio ar estava silencioso. Os sinos que antes repicavam continuamente pelos muitos
funerais tinham cessado, pois os mortos eram demasiados para serem celebrados funerais. Os
vendedores ambulantes que gritavam os seus pregões e constituíam uma característica de
Londres tinham sido calados pela peste ou pelo receio que esta lhes provocava.
Parou diante da igreja de St. Mary le Bow para ler o aviso que fora afixado na porta. Frances
estremeceu, apercebendo-se de que se tratava de uma Lista de Defuntos hediondamente ilustrada
com caveiras, esqueletos e uma parafernália de instrumentos para cavar sepulturas, enumerando
as mortes dessa semana devidas à horrível visita que pairava sobre Londres.
As poucas pessoas que via na rua aguardavam em fila por passes outorgados pelo mayor para
poderem abandonar a cidade, ou então eram homens de cajados brancos que recolhiam os
cadáveres, cobrando uma moeda de quatro pence por cada corpo; e, ainda mais aterrorizantes,
os doutores da peste, com estilo próprio, envoltos em casacos de couro, com enormes chapéus e
máscaras em forma de bico cheias de especiarias, que serviriam de proteção mas os tornavam