alguma esperança.
A Viúva Wyatt fitou-a.
- Um doutor da peste far-lhe-ia uma sangria ou aplicaria sanguessugas, para além de
certamente lhe vender teriaga de Veneza, o que apressaria a ida da sua jovem amiga para a
sepultura. – Entregou a Frances uma caneca de cerveja com especiarias para a ajudar a
recuperar o ânimo. – Um médico em quem confio mais do que em qualquer outro tem fé na
essência de hastes de veado, obrigando depois o paciente a suar. De bom grado lhe prepararei
um pouco, embora, do que tenho observado, só haja uma cura. - E qual é?
- As ínguas dos sobreviventes do contágio rebentam sempre. Se as da sua amiga não
rebentaram, terá de tentar lancetá-las. Não será fácil nem agradável. E depois aplique um
cataplasma de unguentum terebinthinae: é uma pomada de óleo de terebintina. Vou preparar-
lhe a mistura agora. E mantenha-a quente enquanto a febre estiver alta. – Afagou o rosto de
Frances com delicadeza. – E reze.
A viúva apressou-se a misturar o remédio. Quando abriu um grande frasco de vidro, um odor
estranho e rançoso encheu a botica com as suas emanações e, apesar de tentar controlar-se,
Frances estremeceu. - E confia nesse remédio?
A viúva riu-se, um som raro naquele tempo melancólico. - Pode fazer o que fazem os doutores charlatães, se preferir. Depene a parte inferior de uma
galinha viva e amarre-a à íngua até a ave morrer. Faça-o até que uma das galinhas sobreviva e
saberá já que conseguiu extrair o veneno. – Deu uma palmadinha no ombro de Frances. – Ou
então use o meu cataplasma. Sei bem que tratamento eu preferia, caso fosse a vítima.
Frances acenou com a cabeça, sentindo que, se fosse ela a doente, confiaria na viúva e não
num grupo de doutores da peste. - Vou fazê-lo.
Ao regressar à rua, Frances manteve o véu a cobrir-lhe o rosto e caminhou o mais depressa
que pôde em direção ao rio, passando pelas carcaças fedorentas de cães e gatos, aniquilados
aos milhares por se recear que espalhassem a doença, e por um velho de cabelo desgrenhado
que insistia com os cidadãos aflitos de Londres que estava na altura de se arrependerem, pois o
Reino dos Céus estava próximo.
Acabara de chegar a Thames Street, a poucos metros da doca Three Cranes, quando estacou
para observar a cena mais triste que presenciara até então. À porta de uma taberna jazia uma
jovem vítima da peste e, no seu peito, o filho ainda vivo mamava.
Por um instante de loucura, ocorreu-lhe levar o bebé, mas sabia que também ele poderia ter
contraído a enfermidade e que, em vez de ir ajudar Mary, causar-lhe-ia ainda mais dano. Fez o
sinal da cruz sobre a pequena testa do bebé e correu para a doca, apinhada de pessoas que se
acotovelavam a transportar todas as posses que podiam, saltando para um bote que se dirigia a
Woolwich, de onde seguiu caminho para Tunbridge Wells, ao encontro de Mary.