Capítulo 18
A ama prestara um bom serviço nos alojamentos delas. As emanações da resina e do incenso
eram tão densas que abafavam qualquer cheiro a doença.
A febre de Mary continuava elevada e ela não parava de se virar, e delirava.
- Ninguém veio bater à porta, suspeitando da aflição dela? – perguntou Frances num tom
ansioso.
A ama abanou a cabeça. - Que disse a sábia?
- Deu-me remédios. Mas espera-me uma tarefa que requererá toda a minha coragem. Disse-
me que a Mary só sobreviverá se eu lhe lancetar os inchaços que tem debaixo dos braços e no
pescoço.
Apesar da sua natureza estoica, a ama estremeceu. - Pode segurá-la por mim? É a única forma. Façamo-lo agora enquanto ela dorme.
A Viúva Wyatt dera-lhe dois instrumentos semelhantes a afiadas agulhas de coser e Frances
dispô-las em cima da cama. Em seguida abriu a ampola de óleo de terebintina e aquele odor
estranho e rançoso espalhou-se pelo ar, fazendo-a tossir e engasgar-se.
Enquanto a ama agarrava Mary pelos ombros, Frances tirou da bolsa as luvas de cabedal e a
máscara para a proteger de infeções que a viúva também lhe dera e dedicou-se imediatamente à
tarefa. Havia três ínguas, duas no pescoço e uma debaixo do braço. Foi fácil lidar com as do
pescoço, mas a protuberância na axila de Mary era dura e com crosta. Mary gritou de cada vez
que Frances tentou lancetá-la.
Por fim, a pústula cedeu e o veneno fétido foi expelido.
Assim que tudo saiu, Frances aplicou rapidamente o cataplasma, que manteve no lugar com
tiras de um camiseiro rasgado. - Passemo-la para a cadeira por um instante enquanto eu recolho as roupas da cama e as
queimo. Agora tudo o que podemos fazer é esperar e rezar.
Frances juntou os lençóis sujos, ainda com as luvas grossas calçadas, e levou tudo para o
terreno relvado nas traseiras dos alojamentos. O óleo de terebintina que havia caído no linho
ajudava a atear o fogo, pelo que depressa tudo ficou reduzido a cinzas.
Quando ela regressou, a ama já tinha voltado a levar o corpo leve para a cama.