para o travar. Tem a certeza de que ousará arriscar-se a desagradar-lhe?
- Mistress Stuart... Frances. Pensei muito nisto. A memória da minha estada na Torre
continua bem viva. – Riu-se com tristeza. – Ratazanas e ratos não são os companheiros de cama
mais animadores que se pode ter. Mas a minha vida sem ti tem sido realmente vazia, como
aprendi a grande custo. Poucas serão as cadeias mais pesadas do que aquelas que tenho
suportado nestes últimos doze meses.
Ela não teve oportunidade de apresentar mais argumentos, pois os braços dele já a tinham
envolvido e qualquer protesto que fizesse teria sido dirigido às dobras de veludo do casaco
dele. Em vez disso, ela correspondeu ao beijo dele com uma paixão que teria sobressaltado o
rei. - Casemo-nos, então – declarou por fim, encorajada pelo óbvio amor que ele lhe votava e
pela promessa de uma vida digna, longe do labirinto de intrigas de Whitehall. Contudo, uma
nuvem súbita toldou o horizonte límpido. – Mas não tenho qualquer dote que possa entregar-te.
Qualquer esperança que tivesse de vir a obtê-lo proviria do tesouro real, por ser aia da rainha,
e isso parece-me agora tão pouco provável como o Natal em julho.
O duque riu-se com amargura. - Segui as ordens do meu tio e casei-me tendo em mente o bem da minha propriedade, e vê só
onde isso me levou. Que Cobham se desmorone à nossa volta, mas enfrentemo-lo juntos.
Ele voltou a puxá-la para si.
Frances sabia bem o risco que corriam. O conde de Clarendon havia-a recordado que o rei
não toleraria rival algum. Poderia fazer tudo para impedir que a mulher que desejava
desposasse outro homem. Pois ele compreenderia, como ela, que aquele não seria um casamento
de conveniência, no qual a noiva se esgueiraria do leito nupcial para a cama do rei enquanto o
esposo fingia não ver.
Aquele casamento, baseado no amor e fortalecido pela adversidade, seria o fim de todas as
esperanças e desejos reprimidos do rei. Frances escapar-lhe-ia para sempre.
E, todavia, existia um risco ainda mais próximo a ensombrar-lhes o contentamento, do qual
nenhum deles estava ciente.
A menos de vinte jardas do local de onde eles planeavam escapar, Barbara Castlemaine
observava os amantes por trás das pesadas cortinas de brocado dos seus aposentos, perto do
portão Holbein, com um brilho de satisfação no olhar. Então a angélica Frances, que durante
tanto tempo rejeitara o rei, estava pronta a esquecer a cautela por outrém?
Barbara sabia a dor intensa que aquilo causaria ao rei e sentia-se deliciada. Frances
ameaçara-lhe a posição e provocara-lhe mais preocupações do que qualquer outra mulher, pelo
que agora pagaria por isso.
Contudo, Barbara deparava-se com um dilema incómodo.
Era claro que Frances e o seu admirador, pobres tolos, se julgavam profundamente
apaixonados. Que Frances pudesse ter passado quase cinco anos na corte de Carlos II e ainda
acreditasse em tal conto de fadas era por de mais caricato, mas realmente ela sempre fora uma
rapariga estranha. O primeiro instinto de Barbara era expor aquele amor e vê-lo ser esmagado