Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)
Mall riu-se.
- Sim. Percebo que ela tenha sido uma boa professora quanto aos perigos de casar por
dinheiro. E que favor deseja de mim? Adivinho o que será. Quer que interceda por si junto do
rei?
Frances atirou-se para os braços da amiga.
- Se o fizesse! Não há mais ninguém. Ninguém que possa compreender, como a senhora,
como é vazia uma vida sem amor.
- E, no entanto, querida menina, é assim que todos vivem, salvo raríssimas exceções. Nesta
corte, as pessoas estão mais disposta a aceitar a ambição como motivo para casar do que o
amor. O amor é o que justifica encontros e casos. – Acariciou o cabelo de Frances com uma
expressão triste. – No nosso mundo, o amor e o casamento não são companheiros de leito
habituais.
Mall fechou melhor o robe e considerou a questão.
- Mas o homem com quem espera casar é um duque, a posição mais alta da nobreza a seguir à
do rei. Não faz parte do círculo restrito do rei, pelo que poderá ter feito menos inimigos. O
casamento não será vergonhoso para a sua honra e para o estatuto do rei, como seria se
desposasse um simples escudeiro e criasse os seus rebentos num casebre. É primo do rei, ainda
que não em primeiro grau, para além de ser um Stuart. Por ora, nada diga, mostre-se alegre,
comporte-se como sempre. Vá ao teatro e seja vista. Eu esperarei pelo momento mais adequado
para defender a sua causa.
Depois de Frances partir, Mall tornou a voltar-se para o espelho, mas nada via.
Não havia passado assim tanto tempo desde que o monarca lhe pedira que o ajudasse a levar
Frances para a cama, coisa que ela recusara. Agora Frances pedia-lhe algo ainda mais difícil.
Que rogasse ao rei que a deixasse casar com outro. Contudo, seria que Carlos amava realmente
Frances, ou acontecia apenas que ela, de todas as damas que ele alguma vez perseguira, era a
única que lhe resistia?
Frances seguiu o conselho de Mall. Cuidava ainda mais da forma como se vestia e esforçava-
se tanto por se mostrar animada a conversar com as outras aias que algumas delas se
interrogavam se, afinal, viria a ser rainha. Cary Frazier segredava com a mão a tapar-lhe a boca
que ouvira rumores acerca de o rei amar tanto Frances que seria capaz de se divorciar de
Catarina e colocá-la a ela no trono. Todavia, sob todas as aparências, Frances pensava em
pouco mais do que no momento em que Mall daria a sua notícia ao rei e como reagiria ele.
- Vamos assistir à nova peça de Mister Dryden, A Rainha Virgem^27 , que está em exibição no
Teatro Real! – sugeriu Catherine Boynton. – Ouvi dizer que há uma atriz nova que encanta tudo e
todos, chamada Nell Gywnn, e que dantes vendia laranjas no teatro.
- Mas, Catherine – recordou-a Jane La Garde –, a uma sexta-feira? Tenha presente que
estamos na Quaresma, não haverá representação hoje.
Catherine deu um estalido com a boca, irritada.
- Então vamos cavalgar até Hyde Park. Finalmente o tempo começa a aquecer e já vi botões
de flores nas árvores de lá.