Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Frances, habituada aos palácios elegantes do Louvre e das Tulherias, construídos em
quadrados ou curvas graciosas, ficou chocada ao observar o vasto conjunto de casas e edifícios
que constituíam o palácio de Whitehall.



  • Na verdade – declarou –, não é tanto um palácio, mas mais uma aldeia ou uma vila.
    A propriedade de Whitehall, abarcando centenas e centenas de pequenas divisões e grandes
    aposentos – alguns altos, outros humildes – espraiava-se desde a margem do rio, incluía o
    relvado de boliche, o jardim privado e o campo de ténis do rei, o terreiro da Cavalaria da
    Guarda e o pavilhão de banquetes, chegando quase ao parque de St. James.

  • Um amontoado de casas, foi o que a minha mãe sempre disse. – Mall olhou em redor, com
    uma expressão afetuosa. – Mil e quinhentos aposentos, e pode alojar seiscentos cortesãos. É o
    maior palácio da Europa... e o mais feio. Sabia que eu cresci no palácio de York, que o rei
    juntou ao seu palácio? Por isso, vou morar com a corte, mas é como se estivesse em casa.
    Com uma sensação de expectativa nervosa, Frances perguntava-se se veriam o rei e, caso
    isso acontecesse, se ele se recordaria ou não dela.

  • O rei encontra-se na residência?

  • Nesta altura do ano? – Mall riu-se da ignorância dela. – Está em Newmarket. Passa lá duas
    temporadas por ano, na primavera e no outono. – A sua expressão toldou-se. – E leva Lady
    Trollop com ele.
    Apesar de ter chegado à corte havia tão pouco tempo, Frances já ouvira falar muito da
    escandalosa Barbara Castlemaine, cujo nome de solteira era Barbara Villiers; tratava-se de
    mais uma prima de Mall, que tinha muitíssimos parentes. Barbara chocara a nação por passar
    nos seus braços a noite em que o rei regressara. O facto de já ter marido não a impedia. O rei,
    por seu turno, tentara compensar o desafortunado Roger Palmer tornando-o conde de
    Castlemaine, e fora assim que Barbara se tornara Lady Castlemaine. Contudo, todos na corte, ao
    que Frances sabia, se referiam a ela como «a Lady».

  • A doce Barbara aguarda o nascimento do bastardo do rei – continuou Mall. – Ainda que se
    diga que o último não se parece muito com Sua Majestade mas antes com Lorde Chesterfield, o
    amante anterior da Lady.
    Frances mordeu o lábio, impressionada com a indiscrição com que Mall falava da própria
    prima.

  • Oh – riu-se Mall –, eu até a trato com bastante generosidade. Há quem a difame muito mais.
    Ned Hyde, o chanceler, abomina-a de tal forma que não acede a que lhe sejam atribuídos
    quaisquer privilégios ou dinheiro. Quando o rei desejou fazer de Roger, o marido, conde, a
    partir do que a Barbara passaria a intitular-se condessa, teve de o fazer no pariato irlandês, para
    não ser necessário o selo do seu próprio chanceler!

  • Mas não pode o rei fazer tudo o que lhe aprouver?

  • Tem passado os últimos anos a dormir? Por mais que isso me deixe o sangue a ferver, o rei
    não pode ultrapassar certos limites e arriscar-se a que considerem que age como o seu pai.
    Tinham chegado ao interior do palácio e um criado de libré conduziu-as aos aposentos que
    estavam a ser preparados para a rainha.

Free download pdf