Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Alguma vez compreenderei o belo sexo?
    Mall limitou-se a sorrir.
    Depois de ele ir buscar vinho das Canárias para os três, Mall entregou a Frances um pequeno
    embrulho.

  • Não o abra aqui. Contém alguns guinéus e uma bagatela que eu comprei em Veneza, onde as
    damas a usam para defenderem a honra, ainda que, pelo que me consta, com escasso sucesso.
    Frances sentiu o coração a parar.

  • Julga que pode haver perigo?
    Mall sorriu e acenou a um cavalheiro que as observava com um ar curioso.

  • Vivemos em tempos perigosos.
    Tom estava a regressar com as taças de vinho, pelo que Frances fez deslizar o embrulho para
    dentro da manga, onde as dobras do seu camiseiro facilmente o ocultaram.
    A peça era demasiado longa e pouco divertida; porém, ainda que tivesse sido o êxito mais
    hilariante e os papéis interpretados pela nata dos atores de Londres, ela não teria prestado
    atenção. Tudo o que podia fazer era esperar. E, com a meia-noite a aproximar-se e todos em
    redor a bocejar, havendo até algumas pessoas a adormecer, sentiu o cotovelo de Mall no seu
    flanco.

  • Vá. Depressa, enquanto aquele ator tolo arrasta a sua fala.

  • Mas que risco a farei correr, se partir assim? – sussurrou Frances.

  • Eu sou irmã do duque de Buckingham, amiga de infância do rei e uma mulher. Ele não me
    fará mal. Encontrará um manto e um véu no vestiário aqui ao lado. Vá!
    Frances não precisava de mais encorajamento. Enquanto a assistência se levantava e
    aplaudia, mais por alívio por a peça ter chegado ao fim do que por ter apreciado o espetáculo,
    ela esgueirou-se e caminhou rapidamente por entre o magote de criados e cortesãos que
    bocejavam do outro lado da porta.
    No vestiário, encontrou o manto que Mall lhe prometera e vestiu-o. Depois correu pelo
    corredor entre os aposentos da rainha e os do rei em direção ao terraço sobre o rio, de onde os
    monarcas tinham observado o cometa. Dali partia uma escadaria pouco usada, que passava pela
    galeria dos escudos e depois se unia às escadas privadas. Uma fileira de botes aguardava ali
    que o entretenimento chegasse ao fim, balouçando ao sabor do vento forte que fazia com que o
    rio parecesse o mar alto. Frances chamou o primeiro, que se apressou a remar na sua direção,
    ansioso por deixar o rio e poder ir para casa, onde o esperaria o calor de uma lareira.

  • Para onde, senhora? – perguntou o barqueiro.

  • Para The Bear, em Bridgefoot, o mais depressa que puderem remar.

  • Já vai tarde, senhora, se espera ver a exibição do Jacob Hall nos terreiros de lá – comentou
    enquanto começava a virar a pequena embarcação. – Calculo que já esteja no interior da
    estalagem, com uma das senhoras a oferecer-lhe uma taça de vinho, não achas, Benjamin? –
    perguntou ao outro remador.
    Frances, que nada sabia desse espetáculo, ficou aliviada por isso evitar que os homens lhe
    perguntassem porque ia para lá; contudo, a informação também a deixou ansiosa. Iria a presença

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