joelhos, parecia-lhe deveras exótica.
Passaram a tarde a brincar com Mary nos jardins em frente a Somerset House, com os seus
relvados quadrados por onde se podia correr, rodeados de áleas cobertas de gravilha e com três
avenidas de árvores que conduziam a uma grande escadaria de pedra que acedia a um jardim
inferior, junto ao rio. Através de um portão de ferro, divisaram uma embarcação estranha, que
Mall explicou inspirar-se num barco chamado gôndola, que existia em Veneza.
- Eu gostaria de andar nele – disse Mary.
- Também eu – concordou Frances, a assentir com a cabeça.
- Hoje não, minhas queridas.
Mary pareceu ficar tão desiludida que Frances teve de a animar, perseguindo-a pelos
relvados e escondendo-se atrás de uma estátua de Tritão, para depois a surpreender, saltando e
gritando: - Bu!
De regresso a casa, depararam-se com um cavalheiro, bastante robusto e e de tez rosada, mas
finamente vestido de veludo negro, com dezenas de botões de bronze alinhados no casaco e uma
peruca loura. - És um soldado? – perguntou-lhe Mary.
- Não, de modo algum... bem, não neste momento e nunca o será, se puder evitá-lo – riu-se
Mall. – Este é o meu irmão, George Villiers, o estouvado duque de Buckingham. Mary,
cumprimenta o teu tio. - És mesmo meu tio? – quis saber Mary.
- Com mil demónios, Mall, que maneira de me apresentares a este par encantador. – Baixou-
se, com um joelho no chão, mas, dado ser muito corpulento, ficou numa postura ridícula em vez
de romântica. – Sou mesmo, jovem dama. - Eu sou Mary, Lady Stuart – disse a criança, de súbito a sentir-se muito importante. –
Todavia, não virei a ser duquesa de Richmond, apesar de o meu irmão ter morrido, porque sou
uma menina.
Frances olhou para Mall, receando que aquela recordação de Esme a entristecesse. Mas a
tagarelice da criança fazia-a sorrir. - É verdade. O duque de Richmond é agora o meu jovem primo, Charles.
Desta feita, foi Mall quem olhou para Frances, com uma expressão divertida e inquisitiva.
Ela fingiu não reparar. - Vamos, Mary, subamos aquela grande escadaria, a ver se chegamos a casa antes da tua mãe
e do teu tio.
Perante o desafio, Mary levantou as saias e desatou a correr em direção às escadas, com
Frances a segui-la. - Então, Borboleta – ouviu o duque perguntar à irmã –, agrada-te estar de volta à corte
inglesa?
Frances não conseguiu perceber a resposta mas, no cimo da escadaria, atrás da estátua de
uma nereida, teve de parar, pois o laço do seu sapato desfizera-se. Debruçou-se para o apertar.