As palavras que ouviu em seguida deixaram-na imobilizada.
- Parabéns, irmã! – dizia o duque em voz baixa. – Ela é absolutamente perfeita. Que beleza
inocente, e que encanto singelo! Não poderias ter arranjado um contraponto melhor à madureza
excessiva da nossa Barbara, ou uma melhor resposta às nossas preces. Como poderia o rei
resistir a um pedaço tão tentador?
Frances esperava que Mall se incendiasse perante aquelas palavras tão degradantes, mas a
resposta deixou-a gelada até aos ossos. - É bem verdade, George, creio que tens razão. Como um sorvete, limpar-lhe-á o palato
depois de uma dieta tão prolongada de comida muito pesada. - Mas que Borboleta astuta. E diz-me, como progride a tua poesia escandalosa?
Frances não se deteve para ouvir a resposta, recomeçando a correr atrás da pequena Mary,
com o coração a bater desenfreadamente. Fora tola e ingénua. Mall parecera ser muito sua
amiga – na verdade, a única que tinha – mas percebia então que podia confiar tanto em Mall
como naquelas vilipendiosas damas de companhia.
Nunca acreditara muito na sua beleza, ainda que outros lha elogiassem, e agora desejava
ardentemente não a possuir. Talvez tivesse sido ingénua por confiar tanto em Mall. Esta
frequentara cortes durante toda a sua vida e aprendera a julgar o que poderia ser ou não útil.
Frances pensava ser sua amiga – quase uma filha, já que a sua própria mãe não era dada a
afeição natural. Agora suspeitava de que Mall sopesara friamente o seu encanto e inocência, não
como qualidades intrínsecas, mas de acordo com a utilidade que poderiam ter para cimentar a
causa dos interesses dos Villiers.
Estava na altura de se libertar da alçada dela e criar amizades em que pudesse confiar.
Quando chegou aos arcos e aos pórticos graciosos de Somerset House, viu que um gentil-
homem da câmara a esperava, com um pequeno bouquet numa salva de prata. - Que lindas flores! – exclamou Mary. – São para mim?
O homem sorriu ao comentário infantil. - É um pouco jovem demais, cara dama, para que lhe enviem ramos de flores. São para
Mistress Stuart, da parte de Mistress La Garde – anunciou num tom sério, enquanto entregava
uma carta a Frances. – Esta nota acompanha as flores, bem como um pedido de desculpas por
não ter podido vir cá e entregá-las em mão.
Frances abriu a carta. Era uma missiva curta, cheia de erros e de borrões de tinta, na qual
eram pedidas desculpas pelo tratamento desagradável com que as aias tinham brindado. «Que,
se honrassem a posição que detêm, deveriam saber comportar-se melhor.»
Parecia que tinha uma amiga, pelo menos.