Capítulo 2
À medida que o dia da chegada da rainha Catarina se aproximava, a excitação da corte ia
aumentando. Uma nova rainha significava um novo começo para todos. E, para alguns, talvez um
fim.
Era o que muitos prenunciavam para Barbara, condessa de Castlemaine.
- Ela pode esperar o bastardo do rei – salientava Mall –, mas deveria ter presente a
promessa que ele fez, de nunca adotar o comportamento do seu primo Luís. Declarou que, assim
que desposasse uma mulher, não teria os maus modos insultuosos de manter uma amante ao
mesmo tempo. - Pois – acrescentou Lady Suffolk –, mas isso foi antes de ter escolhido uma noiva.
Seria Catarina de Bragança – de vinte e quatro anos, ainda com uma aparência de criança por
ter sido educada num convento, onde a sua vida fora muito protegida – suficientemente cativante
para que ele cumprisse o prometido?
Mall estava muito ocupada a distribuir a enorme quantidade de objetos que Catarina enviara
antecipadamente e que faziam parte do seu enxoval – jarrões de porcelana, mobílias de vime,
armários de laca oriental e painéis de algodão indiano pintados para pendurar nas paredes, tudo
objetos mais exóticos do que qualquer outra coisa vista em Inglaterra. Também lhe cabia a
tarefa de atribuir aposentos às várias damas portuguesas que acompanhariam a rainha e
supervisionar criadas encarregadas de arejarem as camas, para que a nação ficasse bem vista.
Apesar disso, sempre arguta e alerta a tudo o que a rodeava, Mall não tardou a reparar que
Frances a evitava, pelo que a confrontou. - Diga-me, Frances, que ofensa lhe causei para que desvie o olhar sempre que o cruza com o
meu e para que não permaneça nem cinco minutos na minha companhia, como se eu tivesse tifo?
Frances debateu-se consigo mesma, sem saber se haveria de dizer ou não a verdade. Contudo,
não bastaria uma desonestidade? - Ouvi-a falar acerca de mim com Sua Senhoria, o duque de Buckingham.
- Bem me parecia. – Surpreendentemente, Mall parecia aliviada. – O George tem sempre
algum estratagema louco que quer impingir-me e eu finjo concordar para lhe agradar. Não quer
dizer nada, garanto-lhe. Os planos do meu irmão, regra geral, são inofensivos. - Mas porque haveria eu de ser incluída em tal coisa?