Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • É um esquema absurdo, nada mais. De igual forma, ele poderia referir-se a Catherine
    Boyton ou a Cary Frazier. Não se apoquente.
    Frances fitou-a com um ar desconfiado.

  • E por que motivo lhe chama Borboleta?
    Mall riu-se.

  • Quando eu era criança, o rei Carlos, pai do nosso soberano, viu-me em cima de uma árvore
    e achou que eu era uma borboleta rara e encantadora, pelo que deu ordens aos seus lacaios para
    que me apanhassem, foi só isso. E, desde então, o meu irmão e algumas pessoas da corte gostam
    de me chamar Borboleta.

  • E a poesia que ele disse que escrevia? Isso é verdade? Escreve versos, deveras?
    Mall, corajosa e ardente, ela que não temia homem algum, ruboresceu até ficar da cor de um
    tomate bem maduro.

  • Escrevinho um pouco. Quando o mundo me enfurece a ponto de me deixar sem conseguir
    falar, escrevo.

  • Posso ler alguns dos seus escritos?

  • Não são feitos para o olhar público.

  • Eu não sou o público, Mall.

  • Talvez um dia lhos mostre, num momento de fraqueza.
    Frances agradeceu-lhe; contudo, ficou a pensar que teria de passar a ser mais cuidadosa com
    o que lhe revelasse acerca de si mesma.


Já se tinham passado duas semanas de maio quando Catarina de Bragança, escoltada por
Lorde Sandwich, a bordo do mesmo navio que trouxera o rei de volta ao seu país dois anos
antes, o Royal Charles, finalmente chegou a Portsmouth, depois de uma terrível viagem agitada
por tempestades e fustigada por vagas enormes.
Frances condoía-se da rainha, já que, como ela, se encontrava num país novo e tinha de se
adaptar aos modos daquela corte, tão distintos dos da rígida corte portuguesa.
Enquanto a primeira coisa que Carlos fizera ao chegar a Inglaterra fora ajoelhar-se e
agradecer a Deus por regressar são e salvo, tinham ouvido dizer que Catarina começara por
pedir uma chávena de chá. Infelizmente, embora uma arca de chá se encontrasse guardada como
parte do seu dote, não havia chá disponível de momento, pelo que lhe haviam oferecido cerveja
inglesa, o que surtira o efeito de a fazer recolher-se no seu camarote, onde se deitara.



  • Pobre senhora – comentou Jane La Garde. – Eu também detesto cerveja. Só espero que
    estivesse bem aguada.
    Por fim, a rainha surgiu para cumprimentar o noivo, sendo rapidamente levada para um
    casamento católico secreto, antes do oficial, protestante, que se seguiu pouco depois. O rei,
    segundo a corte ficou a saber, parecia bastante satisfeito com a noiva, uma mulher de rosto
    suave e infantil.
    O facto de se fazer acompanhar por um séquito alarmante de damas portuguesas, todas com
    anquinhas que não se viam em Inglaterra desde os tempos de Isabel, parecia apenas diverti-lo.

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