Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Até manteve o bom humor quando estas o informaram de que a rainha não poderia cumprir os
seus deveres maritais nessa noite por a viagem lhe ter afetado o ciclo mensal.



  • Meus amigos – houve quem ouvisse Carlos a comentar aos seus gentis-homens da câmara –,
    a rainha tem as suas regras, por isso o rei terá os seus copos. Tragam-me um bom Bordeaux. –
    E, quando lho serviram, acrescentou num tom triste: – Talvez seja melhor assim. Estou tão
    cansado da viagem atribulada até aqui que talvez não conseguisse defender a honra de Inglaterra
    no quarto.
    Ao passo que a rainha era modesta e amável, o seu séquito proporcionava aos cortesãos do
    rei grande motivo de diversão. Para além das seis assustadoras damas de companhia, havia
    vários confessores, a sua antiga ama, um perfumista judeu e, para tremendo gáudio do rei, um
    barbeiro pessoal da rainha. Corria um rumor pela corte de que o monarca perguntara
    maliciosamente à esposa que parte do corpo planeava barbear. Felizmente, a noiva não
    compreendera a piada.
    A rainha, por seu turno – satisfeita por Carlos ser bonito e bondoso e não um ogre cruel –,
    parecia muito desejosa de se apaixonar pelo marido. E, assim, foram felizes para Hampton
    Court, onde as aias da rainha, entre as quais Frances, a aguardavam.
    À chegada, a pequena rainha deambulou alegremente pelo palácio de tijolos vermelhos do
    cardeal Wolsey, colheu rosas nos jardins, passeou pelos prados regados a rir-se com o rei, e foi
    alegremente para o leito de núpcias, com cobertas carmim e prateadas, uma cama que, talvez
    infortunadamente, havia sido uma oferenda dos Países Baixos à falecida irmã de Carlos, Maria.
    O rei declarou as suas intenções de ser um marido bom e fiel e algumas pessoas, entre as
    quais Frances, até acreditaram nele.

  • Não vos parece – perguntou ela a outras damas –, que, agora que tem a sua rainha e que
    estão tão felizes na companhia um do outro, tudo será diferente?
    Cary Frazier e Catherine Boynton entreolharam-se. Lady Scroope encolheu os ombros bem
    acolchoados. Jane La Garde esboçou um sorriso atencioso.

  • Devemos contar-lhe a verdade? – inquiriu Catherine Boynton. – Lady Castlemaine teve um
    bebé esta semana e chamou-lhe Carlos.
    Frances ficou quase sem fôlego.

  • O rei tem-nos visitado todos os dias. O marido da Lady deixou-a finalmente e o rei sente
    que, como lhe arruinou a vida privada, tem a obrigação de a apoiar publicamente.

  • Mas... e a rainha? – perguntou Frances, indignada. – Ela está a par desta ofensa?
    Todas ficaram em silêncio perante aquela ideia.

  • Em breve ficará a saber. – Cary Frazier suspirou. – O rei manteve a promessa de nomear a
    Lady dama de companhia.

  • Mas ele é um homem bom e amável! – protestou Frances, lembrando-se de que o rei até
    com a ninharia das suas frieiras se havia mostrado preocupado. – Como pode comportar-se
    assim?
    Lady Scroope, mais velha e sensata do que as outras, limitou-se a encolher os ombros.

  • É um homem. E um rei. Fará o que quiser.

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