Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

haviam-se referido sobretudo a travar comportamentos indecorosos de qualquer cavalheiro,
enquanto as alegadas habilidades e talentos de Lady Castlemaine pareciam, pelo contrário,
tender a encorajá-los.



  • Lady Castlemaine foi realmente nomeada camareira da rainha? – perguntou ela no dia
    seguinte, em voz baixa, enquanto se dirigiam para o salão principal, onde seria servido o jantar.
    Houvera queixas entre as damas de companhia, suscitadas não apenas pelo rumor de Barbara
    se ir juntar ao grupo, mas também pelas notícias de que, numa tentativa de economizar, a comida
    servida na mesa das aias seria reduzida a uns meros sete pratos ao jantar e à ceia. O escândalo
    era que já não haveria mais do que rosbife e cordeiro, ganso ou galinha, tarte de caça, cozido de
    coelho ou cabrito, e que só seria servida uma única tarte doce a ser empurrada com vinho da
    Gasconha!
    Frances, habituada a tempos de maior escassez, considerava aquilo um festim grandioso, mas
    Cary Frazier e Catherine Boynton reclamavam bem alto devido à horrível falta de opções.
    «Deveriam ter estado connosco em França!», tinha ela vontade de gritar. «Então saberiam o
    que é ter barriga de fome!»
    Contudo, estava ciente de que os apoiantes da causa real haviam sofrido de outras formas. A
    sua mãe explicara-lhe o cenário negro. Os homens jovens tinham morrido em batalha, mas as
    jovens também tinham sofrido. Sem pais – mortos ou banidos – e sem esperança de terem um
    dote, o casamento não era opção a que muitas pudessem aspirar. E, sem a proteção da família,
    algumas haviam cedido a ligações extra-maritais – como Barbara Castlemaine fizera aos
    dezasseis anos – e descoberto que o caminho do prazer era perigosamente sedutor.
    Ocorreu-lhe que não se encontrava numa situação muito distinta. Nenhum nobre se casaria
    consigo, a menos que ela pudesse oferecer-lhe valores ou terras, e ela não tinha nem uns nem
    outras. Ver-se-ia ela também tentada pelo papel de amante em vez de esposa?
    A rainha chegara e dirigia-se, seguida pela condessa de Suffolk, para a mesa real, colocada
    num palanque ao fundo da sala.
    Frances ficara chocada pelo facto de, em Hampton Court, que mais parecia um refúgio
    privado, ao contrário da residência oficial de Whitehall, ser comum os súbditos do rei irem
    observar a família real a jantar, como se se tratasse de uma nova peça a ser comentada para
    entretenimento do público.
    No final da refeição, a rainha anunciou que, como estava um dia ameno, gostaria de ir até à
    beira-rio. O rei sorriu.

  • Como me agradaria acompanhá-la. A propósito, querida esposa... – fez-se silêncio quando
    ele lhe passou uma folha de papel – ... aqui está a lista de aias para os seus aposentos. Nada
    terá de fazer. O chanceler trata de tudo.
    Era óbvio que esperava que a rainha passasse a lista a uma das suas damas de companhia,
    mas Catarina reteve-a.

  • Uma pena, por favor – pediu, levantando-se e endireitando-se por completo, ainda que não
    lhe fosse possível ficar muito alta. No entanto, de pé, naquela sala cheia de desconhecidos,
    todos eles cientes da importância da lista que lhe fora passada, revelava uma certa dignidade

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