tranquila.
Um gentil-homem da câmara entregou-lhe uma pena, a ofegar pelo esforço que fizera para a
obter rapidamente.
- Obrigada – agradeceu Catarina com um sorriso, antes de voltar a fitar a página até
encontrar o nome da condessa de Castlemaine.
Então, evocando tudo o que sabia ser-lhe devido como princesa real por direito próprio,
riscou-o com um floreado.
Frances conteve uma exclamação, secretamente encantada por a rainha estar a marcar posição
contra o poder insidioso da sua rival. Corriam rumores de que a mãe da rainha Catarina a
aconselhara a nunca entrar numa divisão em que Barbara se encontrasse e muito menos a aceitá-
la como membro importante do seu séquito. - Coitada – murmurou Mall a Frances. – Julga que venceu a batalha. Mas não conhece a
inimiga. É como atirar um cordeiro a um leão.
Para Frances, foi doloroso assistir aos dias que se seguiram. Estava convencida de que a
rainha tinha a razão do seu lado, mas, à medida que observou a forma como a batalha progredia,
apercebeu-se de que, tal como um marinheiro é capaz de se orientar pelas estrelas sem mapa ou
bússola, Barbara lia todos os pensamentos e fraquezas da mente do rei.
Barbara começou a ser vista a deambular pelo palácio com os dois filhos – o que era caso
raro, já que costumava deixá-los com a ama.
- Já reparou que ela se mostra como se fosse a mulher injustiçada? – sussurrou Frances a
Jane La Garde, tão impressionada como indignada. – Desde que o marido a deixou... e não foi
sem tempo, depois de tudo o que o coitado teve de tolerar... exige a lealdade do rei. E ele diz
que lhe destruiu a reputação, pelo que se vê agora na obrigação de a proteger! Sem pensar nos
pecados cometidos contra a rainha!
Frances, bem como o resto da corte, considerava difícil perceber as ações do rei. Parecia tão
tolerante e gentil – até ser encostado à parede e forçado a escolher. Até a sua querida irmã
Minette lhe escreveu, dizendo que tal comportamento era censurável.
Não obstante, o rei insistia em considerar a sua atitude honrada ao apoiar Barbara na sua
querela com a rainha. - Só porque é mesmo o que ele quer fazer – murmurava Catarina, e Frances via-se forçada a
concordar.
O rei continuava a evitar a rainha e tratava os cortesãos com rispidez. Corriam rumores de
que escrevera ao chanceler, Edward Hyde, que recentemente recebera o título de conde de
Clarendon, rogando-lhe, em termos muito fortes, que fosse a Hampton Court e obrigasse a rainha
a ceder.
Este fez o melhor que pôde, explicando a Catarina que os reis tinham amantes e que as suas
esposas aceitavam esse facto. - Na verdade – dissera-lhe o chanceler, compreensivo mas realista –, houve uma altura em
que o rei de Espanha tinha quatro amantes em simultâneo, a quem preferia à sua esposa!