eventos da corte.
- Viu a Lady? – silvou Mall, apontando para Barbara. – Está tão carregada de joias que um
pirata seria capaz de a saquear! Ninguém deve ter-lhe dito que se tratava de uma ceia simples,
mas também é verdade que a Barbara não sabe o que significa «simples».
Contudo, Frances não ouviu a diatribe de Mall.
Entre a multidão feliz que celebrava, bebia e dançava, ela divisara um rosto inesperado – o
do duque de Richmond – e, apesar de saber que não devia, o seu coração acelerara-se-lhe no
peito como o de um veado assustado.
Olhou em volta para ver se a esposa o acompanhava, mas ele parecia estar sozinho. Frances
sabia que ele a vira, pois cumprimentara-a com uma vénia solene quando ela olhara para ele,
um sorriso ténue a animar-lhe o rosto bonito, como se recordasse uma memória feliz.
Ela hesitava, sem saber se deveria ir cumprimentá-lo. Mas, antes que se decidisse, foi ele
quem se aproximou. - Mistress Stuart, parece ter sido numa época diferente que nos vimos em Paris.
- É verdade. E agora temos comida, calor e uma corte alegre.
- E agora é aia da rainha, segundo me consta.
- Sou, de facto. Ausentou-se do campo para nos visitar?
Mall contara-lhe, com algum ressentimento, que ele herdara a casa senhorial de Cobham onde
ela vivera com o marido – tio dele – em tempos mais felizes. - Fui nomeado gentil-homem da câmara e atribuíram-me alojamento perto dos relvados de
boliche.
A notícia de ele fazer parte da corte era um choque, pelo que teve de fazer um esforço para
proferir as palavras seguintes: - E encontra-se aqui com a sua esposa, decerto?
Uma sombra toldou-lhe o rosto. - Ela permanece em Cobham com a bebé. Ainda necessita de repouso.
Saber que ele tinha uma filha destroçava-a. A esposa dele, Elizabeth, segundo soubera, era
pouco mais velha do que ela, mas tinha um lar e uma bebé. E tinha-o a ele.
O duque parecia ter pressentido a tensão que se instalara e mudou de assunto. - Então, tudo é melhor aqui do que na corte francesa?
Ela aproveitou a deixa e respondeu animadamente: - Sim, tudo é melhor. Apenas sinto a falta da minha pequena potra francesa. Os cavalos da
corte do rei são grandes e pesados, próprios para serem montados por homens.
Ele voltou a fazer-lhe uma vénia. - Terei de partir cedo. Já cumpri os meus deveres e regressarei a Cobham de manhã. Os
noivos em breve irão para a cama, creio bem. - Mas são crianças!
A reação escandalizada dela fê-lo sorrir. - Não se apoquente. Beberão o seu leite com vinho, atirarão uma meia e depois irá cada um
para a sua cama. Nem o rei aprovaria um ato tão corrupto!