Sem lhe dar oportunidade de responder, o rei já a levara para o meio de casais que se
moviam ruidosamente pela sala, encorajados pelos outros convidados, que batiam com os pés e
lhes gritavam.
- Não me diga que prefere o courante ou o branle^4? – gritou Carlos. – O meu primo Luís
prefere ser formal e protocolar, para além de mostrar o refinamento da sua perna. A mim
agrada-me algo mais animado. – Ia fazendo com que Frances corresse com ele de um lado para
o outro da sala. – Para mim, estas danças são o melhor de Inglaterra! Conhece esta cançoneta?
Chamam-lhe «Cuckolds All Awry»^5.
Antes que tivesse tempo de comentar que se tratava de uma escolha muito apropriada,
apercebeu-se de um olhar furioso que a fitava do outro lado da sala iluminada por velas.
Pertencia à condessa de Castlemaine.
Frances ergueu o rosto.
- Lady Castlemaine não aprecia dançar?
O rei riu-se. - Ao som de uma música como esta, não. Não tem qualquer prurido em enganar o marido,
mas nunca acederia a dançar esta música.
Frances fitou-o. O tom com que falava revelava uma estranha mistura de sentimentos pela sua
amante. Afeto relutante; ressentimento pelo poder que ela detinha sobre ele; orgulho, talvez,
pelo desdém com que a dama encarava tudo o que era dito acerca dela. - Para além disso – comentou, rindo-se do que estava prestes a divulgar –, a Lady está
grávida de novo.
Ao ouvir tais palavras, Frances desejou poder libertar-se dos braços dele e fugir. Barbara
mal acabara de dar à luz o último bebé! Era tão injusto que a pobre mulher dele não conseguisse
conceber, enquanto a amante parecia ser tão fértil quanto uma coelha. - Queira perdoar-me, Majestade – disse ela, com uma vénia, quando a música chegou ao fim.
- Lamento, mas a música provocou-me uma dor de cabeça e terei de me recolher aos meus
aposentos.
Carlos respondeu com uma vénia profunda, enquanto o brilho dos seus olhos escuros
revelava uma perspicácia surpreendente ao adivinhar o que ela realmente pensava. - Julgava que todos os Stuarts éramos feitos de material mais rijo. Mas agradeço-lhe,
apreciei esta dança.
No meio da algazarra geral, Frances dirigiu-se para a porta. Contudo, se contava esgueirar-se
sem atrair mais atenções, enganava-se. Vários olhares curiosos a seguiram, todos a avaliar o
tempo que tinha passado nos braços do rei e a calcular como poderiam explorar a situação em
seu favor. - Mistress Stuart, que lhe parecem as minhas confidantes? – Cary Frazier, a aia da rainha que
mais seguia os preceitos da moda, revirou os pequenos caracóis que tinha junto às orelhas. – A
minha cabeleireira demorou uma hora a deixá-los tão perfeitos!
Frances observou o penteado elaborado de Cary, com duas madeixas finas a partirem do