risco ao meio, deixando apenas um pequeno caracol no centro da testa. Estavam todas na
antecâmara dos aposentos da rainha, esperando que Sua Majestade requisitasse os serviços
delas.
- Agradam-me muito, deveras. É mesmo assim que as damas francesas usam o cabelo: com
esse anel de cabelo na testa, tal como o seu. - E os meus brincos, Mistress Stuart. – Catherine Boynton estava a ver-se a um espelho
colocado em cima do toucador. – Preferiria ouro ou pérolas, com o meu vestido cor de marfim?
Frances sorriu para si mesma. Desde aquele encontro com o rei que todas pareciam ávidas
por saber a sua opinião acerca de ninharias. A forma como se vestia, que, ainda uma semana
antes, era alvo de comentários por ser demasiado francesa, tornara-se invejada e até copiada
pelas outras damas. Ela sempre preferira a suavidade de um camiseiro sob o vestido, subido, de
maneira a revelar uma renda graciosa por cima do decote. O vislumbre de um camiseiro sugeria
recato, uma qualidade que nem todas aquelas damas desejavam imitar, tendo contudo um
encanto subtil que denotava quem assim se vestisse uma parisiense elegante. - O que pensa de uma mosca no rosto, Mistress Stuart?
Frances ficou bastante surpreendida ao ser, de um momento para o outro, considerada um
árbitro do bom gosto; porém, se a sua opinião iria ser tão solicitada, o melhor seria aproveitar. - Nunca me agradaram. Manchar o rosto com sóis e luas, ferraduras de boa sorte e coisas do
género parece-me de facto uma prática bem estranha. – Ofereceu um sorriso envergonhado ao
grupo. – Mas, quando for mais velha, tenciono ter uma carruagem com seis cavalos numa face e
um mapa do Órion na outra para disfarçar as rugas!
Jane La Garde tinha estado a escutar em silêncio, como era seu hábito. - Lady Castlemaine gosta de usar moscas.
- É verdade – interveio Lady Scrope. – Contudo, falta-lhe a frescura da compleição de
Mistress Stuart, ainda que seja famosa pela sua beleza... – Interrompeu-se abruptamente.
A condessa de Castlemaine tinha entrado no quarto, sorrateira como um gato, e estava à
entrada, a ouvi-las. - O que me falta em frescura – ronronou a voz de Barbara sem manifestar agressividade –,
compenso de sobra com experiência. – Compôs as feições numa espécie de sorriso. – Contudo,
tem razão, Lady Scroope, Mistress Stuart tem uma frescura invulgar. Como uma maçã num
pomar banhado pelo orvalho, quase ao alcance da mão.
Frances, confusa, desviou o olhar. - Essa fruta de ficar com água na boca tem, é claro, um inconveniente. – As outras damas
observavam-na com diversos graus de ressentimento, ainda que nenhuma delas se manifestasse. - Por vezes, apodrece no ramo.
E, sem mais, Barbara saiu imperiosamente da antecâmara.
Cary Frazier foi a primeira a recuperar. - Seria de pensar que era uma deusa grega que se dignara a descer do Monte Olimpo para nos
fazer uma visita, a nós, comuns mortais! E o que era aquela vestimenta que ela envergava e que
mal lhe cobria a nudez? Ainda bem que a rainha não estava aqui para a ver.