Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

como o governo deveria ser restaurado.
O banquete organizado em Somerset House celebrava o regresso da rainha-mãe.



  • Mas houve quem reparasse que também calha no dia da Assunção da Virgem Abençoada
    aos céus – sussurrou Jane. – Não é o motivo mais indicado para celebrar num país protestante.
    Frances percebia que os barqueiros tinham algumas razões para os receios que sentiam.
    Se o rei estava zangado com a mãe por esta fazer ostentação da sua religião, não o mostrou.
    Frances olhou de relance para ele quando se encontrava do outro lado do grande salão, entre os
    cortesãos azafamados. Um deles, que Frances reconheceu como sendo o irmão de Mall, o duque
    de Buckingham, dirigiu-se a elas.

  • Mistress Stuart – cumprimentou-a com entusiasmo –, a minha irmã disse-me que viria
    noutro barco.

  • É verdade, e foi uma viagem muito interessante. Esperávamos uma simples passagem até
    Somerset House, mas acabámos por ficar a saber como correm os ventos por entre a população.

  • Não foram incomodadas por um daqueles barqueiros sediciosos, espero? – O duque sorriu,
    mas o seu sorriso era o de um lagarto prestes a desenrolar a língua pegajosa para apanhar um
    inseto. – Eu pendurava-os a todos na ponte de Londres, para dar o exemplo. Os Franceses
    espantam-se por permitirmos que os barqueiros se nos dirijam como se fossem nossos iguais e
    nós tivéssemos de ouvir as suas opiniões sobre o estado na nação enquanto eles remam pelo rio.
    É um mundo virado do avesso.

  • Então, George. – O rei tinha-se aproximado, com o ministro, Lorde Arlington, a segui-lo;
    este era famoso pelo emplastro negro que tinha no nariz, sobre um ferimento de batalha, do qual
    se orgulhava. – Um homem deve poder dizer o que pensa e as consciências sensíveis devem ser
    respeitadas, caso contrário as recentes tribulações nada nos ensinaram.

  • É demasiado generoso, Majestade.

  • Prefiro esse defeito ao do orgulho. Vamos, Mistress Stuart, os músicos começam a tocar. –
    Apontou para a galeria acima deles, onde dez ou doze músicos afinavam os instrumentos. –
    Dançará comigo?
    Frances hesitou, relutante quanto a atrair as atenções passado tão pouco tempo após terem
    sido vistos juntos.

  • Não se proteja com falsas modéstias – acrescentou o rei. – Todos comentaram que Mistress
    Stuart dança muito bem, quando bailámos ao som daquelas músicas do campo.
    Frances ergueu o queixo, indignada.

  • Abomino falsas modéstias, Majestade. Pergunto-me apenas se não poderá dar azo a
    falatórios.
    Carlos encolheu os ombros.

  • Deixá-los falar! A minha esposa sabe que a senhora é uma flor inocente e Lady Castlemaine
    encontra-se indisposta. – Inclinou-se para ela. – Há quem diga que está com Henry Jermyn,
    sobrinho de Lorde St. Alban, um cavalheiro muito simpático. – Ela viu a sombra de um sorriso
    trocista nos olhos dele. – Em todos os sentidos, é bem mais gracioso do que eu.

  • Como pode falar assim acerca de uma dama que admite amar e que é mãe de dois dos seus

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