filhos? – insurgiu-se Frances sem refletir. – Peço desculpa, Majestade. Não deveria ser tão
arrojada.
- Por favor, não se acanhe. – O sorriso de Carlos crescia. – Há tão poucas pessoas que digam
a verdade a um rei que ouvi-la é como beber água fresca de uma fonte num dia abrasador.
Temos um entendimento, eu e Lady Castlemaine, mas não lhe chamaria amor. Somos terra e ar,
fogo e água, opostos mas complementares. O amor, segundo me dizem, é algo mais delicado. - Vossa Majestade não o conhece por si mesmo?
- É verdade, Mistress Stuart, não conheço. – Riu-se com amargura. – Não é uma coisa
invulgar num homem de quem se diz ter tido dezassete amantes durante os seus anos de exílio?
Dizem que o amor nos faz preocupar mais com o ser amado do que connosco e isso, lamento
admitir, não é algo que eu reconheça. Exceto, talvez, em relação à minha irmã Minette. – Os
seus olhos chisparam como chuva a cair sobre brasas. – Contudo, talvez seja possível mudar um
homem.
Frances sentiu que a sua pele ganhava um desagradável tom vermelho e teve vontade de
agarrar nas saias e fugir. Todavia, sabia que todos os olhares os seguiam. - Boa noite, Vossa Majestade. Vejo que o duque de Buckingham tenta chamar-lhe a atenção.
Afastou-se com passos ligeiros mas comedidos, com a mente num turbilhão doloroso, abrindo
caminho por entre a multidão curiosa até chegar à penumbra de um corredor. Ao encostar-se ao
calor da madeira, soltou um suspiro. - Que cena comovente, doce Mistress Stuart. – O roçagar de seda e uma lufada de perfume
estonteante anunciavam que Barbara Castlemaine recuperara da indisposição que a acometera e
que agraciaria o festim com a sua presença, afinal. – O rei é um cortejador experiente.
Aproveite o favor que lhe dedica. Pode obter grandes coisas. Mas não se convença de que é de
amor que se trata.
Antes que Frances tivesse sequer tempo de responder, o irmão de Mall, o duque de
Buckingham, surgiu a seu lado. - Não dê ouvidos à nossa querida prima Barbara, que tem um interesse próprio a defender
nesta questão. A Mall disse-me que aprecia truques de cartas e eu gostaria de lhe mostrar um
que aprendi em Itália. Creio que lhe agradará.
Com um sorriso malicioso dirigido a Barbara, colocou a mão de Frances no seu braço e
afastou-a dali.
Frances guardou a opinião para si mesma, mas não confiava mais no duque de Buckingham do
que na condessa de Castlemaine.
Toda a corte a julgava uma simplória a quem bastaria um sorriso do rei ou um truque infantil
para perder a cabeça. Pois que o pensassem. Ela tomaria o seu tempo e veria por que caminho
desejava seguir. Por ora, ainda não sabia. Contudo, havia algo sobre o qual tinha a certeza. Não
tencionava ser um brinquedo para qualquer pessoa nem um engodo para as ambições de outra.
A força da sua determinação seria posta à prova mais cedo do que esperava.
Menos de dois dias depois, enquanto Frances cuidava das suas abluções matinais, Jane La