Enquanto o sol refulgia no céu da manhã, percorreram os campos verdes que rodeavam o
parque, espantando veados e um faisão que desatou a esvoaçar e a grasnar, assustado.
- E a sua esposa, Majestade? – perguntou ela deliberadamente, assim que recuperou o fôlego.
- Agrada-lhe a nova vida aqui?
- Creio que sim, agora que todas aquelas medonhas criaturas portuguesas regressaram à
pátria. Venha. – Agarrou-lhe nas rédeas e virou os cavalos, compreendendo por que motivo ela
fizera aquela pergunta. Frances ficou surpreendida com a forma dócil com que a égua obedecia
ao toque dele. – A minha mulher é uma dama boa e amável; seguirei a sua alusão e não a
magoarei propositadamente. Mas, por ora, a minha barriga já faz barulho, pelo que regressemos.
Sei de um sítio onde a tarte de caça é divinal.
E foi assim que Frances Stuart, aos dezasseis anos, comeu pela primeira vez numa taberna
londrina, e, para mais, na companhia de um rei.
Partilhando a estalagem com uma dúzia de atónitos trabalhadores de vestes simples,
sentaram-se no salão Leg and Bell, na rua apropriadamente nomeada King Street, onde jantaram
tarte de caça, cozido de cordeiro e ostras de Essex, enquanto a comitiva real se acomodava no
estabelecimento ao lado, mantendo uma distância discreta e respeitadora.
Enquanto regressavam ao palácio de Whitehall, Frances não sabia o que pensar. Desejaria o
rei apenas uma amizade jovial consigo? Talvez, dado que a conhecera na companhia da irmã
Minette, encontrasse semelhanças entre elas. Talvez a encarasse como uma irmã muito mais
nova, com quem pudesse conversar e, por vezes, distrair-se das preocupações do cargo real.
Apesar da reputação do rei, o seu comportamento naquela manhã não mostrara qualquer indício
de sedução.
O rei despediu-se dela e afastou-se com o seu séquito, ansioso por jogar ténis antes que os
assuntos de estado o assoberbassem. Frances sorriu, compadecendo-se do chanceler Hyde,
incumbido de tentar fazer com que o rei se concentrasse.
Ao desmontar da égua, pensou em Mall. Esta conhecia o rei e tinha experiência quanto ao
comportamento da corte.
Contudo, antes que tivesse tempo de a procurar, a sua mãe surgiu, tendo vindo de Somerset
House para a visitar, uma ocasião rara, já que não era dada a demonstrações de afeto. O que
também era invulgar era que se encontrasse acompanhada de um homem.
Frances acabava de desmontar quando eles se aproximaram dela. Frances reconheceu o
cabelo ruivo e o porte formal de Ludovic Stuart. - Lembras-te do Seigneur d’Aubigny? – perguntou-lhe a mãe. – Veio de Paris com a rainha-
mãe e será o seu esmoler-mor. - Que bela égua, Mistress Stuart. – Frances percebeu que ele observava a montada com um
interesse acrescido. – Na verdade, a minha sobrinha Katherine tem uma muito parecida.
Frances ponderou confessar a verdade, mas decidiu não o fazer. Devia haver muitas éguas
negras em Londres. A sua mãe também observava o animal e o fato de montar da filha. - Saíste?
- Fui a Hyde Park – respondeu com cautela.