- Ao ringue? É muito cedo para isso. A rainha desejou apanhar ar puro?
- Não fui com a rainha. – Frances hesitava. – Acompanhei o rei.
- Deveras?
Sophia Stuart, veterana de duas cortes – a de Carlos I e a de Luís XIV – ficou algum tempo a
avaliar a interessante informação.
Os olhos azuis-claros e translúcidos de Ludovic Stuart semicerraram-se, tornando-se
praticamente duas nesgas. - Tenho de vos deixar, minhas senhoras. Esperam-me assuntos da rainha-mãe.
- Agi mal? – perguntou Frances depois de ele partir. – Tentei recusar, mas ele rejeitou a
minha objeção.
Olhava para o rosto da mãe, ávida de algum conselho maternal. Mas a face de Sophia Stuart
mantinha uma expressão curiosamente impávida. Talvez a sua própria mãe, ocorreu-lhe com
surpresa, fosse igual a todos os outros e estivesse a tentar perceber que vantagens poderiam ser
obtidas a partir do interesse do rei. - Ele não...? – A mãe não completou a pergunta.
Frances virou-lhe costas, zangada. - Eu não permitiria qualquer comportamento impróprio. É bom que esteja ciente disso. Para
mais, ele tratou-me como julgo que trataria a irmã. Na verdade, perguntava-me se não seria
realmente ela quem ele desejava ver, e se eu não me limitarei a trazer-lha à memória.
Mistress Stuart assentiu com a cabeça. - Está bem. Não obstante, tem cuidado. Temos de perceber o que isto significa. Aconselhar-
te-ia a evitá-lo sempre que possas e a mostrares-te uma donzela recatada sempre que estiveres
na sua companhia. - Não preciso de conselhos quanto à minha própria conduta, obrigada – ripostou. – De tudo o
que se sabe, o que deverá preocupar-nos é a atitude do rei, não a minha. Eu nunca sucumbirei a
circunstâncias que possam acarretar vergonha, quer a mim mesma quer à nossa família. - Não, com certeza. – Sophia Stuart estendeu uma mão e acariciou-lhe o cabelo, um gesto de
afeto tão invulgar que a filha o estranhou. – Contudo, é mais difícil recusar quando são príncipes
quem nos acossam. – Fez uma pausa. – Quem me dera que não tivesses admitido o sucedido na
presença do Seigneur. Ludovic Stuart tem algo de puritano. É demasiado magro. E tem olhos de
águia. Cuidado com ele, tal como com o rei.
E, no entanto, nos dias seguintes, Frances nada viu no rei que não fosse afabilidade. Ele
procurava-a, mas apenas para a acompanhar e às outras aias em brincadeiras infantis.
Compreendendo que Frances, privada de uma infância normal durante o seu exílio em França,
adorava acima de tudo fazer castelos de cartas, jogar às escondidas e escutar anedotas e
histórias, ele contava-lhe muitas.
- Que enfado – comentou o conde de Grammont, falando com Lady Castlemaine certa noite,
nos encantadores aposentos desta, enquanto todos escutavam o rei a contar a história que já
todos sabiam de cor, por tantas vezes a terem ouvido, a da sua fuga após a batalha de Worcester.