Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Capítulo 4


Durante todo o tempo frio que se fez sentir naquela primavera londrina, Frances aproveitou
para conhecer os cantos do palácio de Whitehall e para se familiarizar com os deveres que tinha
enquanto aia da rainha.
Lady Suffolk, irritada por Cary Frazier nem sempre parecer estar concentrada no seu
trabalho, reuniu-as para lhes recordar em que consistiam tais deveres.



  • Ajudarão a rainha a vestir-se, assegurando-se de que as roupas preparadas correspondem
    às necessidade de Sua Majestade para o dia seguinte; arranjar-lhe-ão o cabelo, garantindo que
    ela dispõe de todos os acessórios, desde pomada a pinças para enrolar, bem como outros
    apetrechos. Por vezes esperar-se-á que acompanhem a rainha em público, seja em passeios ou
    na capela, embora isso esteja, regra geral, reservado às damas mais antigas. – Olhou para Cary.

  • É por estes serviços, talvez se recordem, que vos é atribuída a bouge de corte, todas as
    despesas relativas a cama, pão, cerveja, vinho, velas e lenha, bem como a remuneração de
    sessenta libras. Há alguma pergunta?

  • Não recebemos uma quantia para roupagens? – quis saber Cary, que parecia viver feliz na
    ignorância de que aquele sermão lhe era dirigido.

  • Não, Mistress Frazier, não recebem. Contudo, se tratarem do vosso vestuário com um
    vendedor ou um mercador de seda, o facto de serem aias da rainha conceder-vos-á valores
    favoráveis. – Observou o vestido de Cary, que era de seda cor de cereja, ornamentado com
    pérolas minúsculas. – Ainda que me pareça que já se serve bem nesse aspeto. Na verdade, até a
    rainha dificilmente estará mais bem vestida do que a senhora.
    Cary enrubesceu e fechou a boca, pois não queria dar por si no lado errado das leis
    sumptuárias. Era uma simples «Mistress» e só quem ocupasse uma posição bem mais elevada
    do que a sua tinha de facto permissão para usar roupas tão luxuosas quanto as dela.
    Frances depressa percebeu que Whitehall se assemelhava mais a uma aldeia do que a um
    palácio, e que alojava não só o rei e os seus ministros, mas também inúmeros cortesãos,
    capelães, damas e nobres, bem como milhares de criados que os serviam.
    O governo da Bretanha era decidido na câmara do Conselho e na galeria de pedra, que, sob o
    jugo de Cromwell, tinham sido privadas de todos os belos quadros que as adornavam; o rei
    encontrara alguns e tornara a colocá-los nas paredes. Era ali que uma grande multidão de

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