Barbara. – Até o meu primo, o duque de Buckingham, que costuma ser muito arguto. – Abarcou
o salão resplandecente com o olhar, as mulheres nas suas sedas e tafetás, os homens de veludo e
colarinhos de renda. – Dizem que La Belle Stuart só gosta de coisas infantis. Castelos de cartas
e cabra-cega. Que nenhuma dama tem mais beleza e menos esperteza do que ela.
Frances ficou boquiaberta perante a acusação e o descaramento de Barbara ao reproduzi-la.
Esta, porém, riu-se, ainda que fosse um riso gutural e borbulhante, um riso de cumplicidade e
humor genuíno.
- Não se ofenda. Na maior parte dos casos, trata-se de homens estúpidos e mulheres
invejosas. Considere-se afortunada, compare isso com o que dizem de mim. – Inclinou-se para
Frances e baixou mais a voz. – Sou gananciosa, extravagante e impetuosa. Intimido o rei com as
minhas ameaças e birras. Sirvo-me dos truques mais sujos das prostitutas para o vergar aos
meus desejos. Até consegui que o chanceler e Mister Evelyn se entendessem: ambos me julgam
a maldição da nação! - E essas insinuações não a enfurecem?
- Minha querida Mistress Stuart, a maior parte corresponde à verdade! – O seu riso tornou a
soar, atraindo não poucos olhares fascinados. – Porém, e os benefícios que acarreto, sem
qualquer reconhecimento? O rei tem um apetite que uma dama nunca poderia satisfazer,
sobretudo tendo sido educada e protegida num convento durante toda a infância, como é o caso
da esposa dele. E o rei é como a sua matilha de spaniels. Precisa de se exercitar, ou fica
melancólico. – Os famosos olhos violeta iluminaram-se, divertidos. – Na verdade, isto ainda
não me tinha ocorrido. Não sou uma meretriz que corrompe, sou uma benfeitora nacional!
Frances perscrutou o rosto da infame amante do rei. Esperava considerá-la fria e calculista,
mas descobria que ela era mordaz e inteligente. Até o seu vestido alardeava uma
individualidade que era apenas dela. A moda da corte favorecia vestidos de cores fortes usados
sobre camiseiros de linho com o colarinho e as mangas a entreverem-se. Barbara Castlemaine
escolhera um vestido de cetim cor de canela, embelezado por uma echarpe castanha-dourada,
drapeada com festões, presa por fileiras de pérolas cor de bronze. E aquela echarpe era uma
característica que nunca dispensava, tendo-as de seda de várias cores, a condizer com todos os
vestidos que usava – um toque que era uma espécie de assinatura pessoal.
Contudo, atender à sua aparência era desviar-se da questão principal. Não eram as suas
roupas que atraíam os homens como traças à chama de uma vela. Nem sequer a afamada beleza
daqueles olhos rasgados e ensonados, ou o apelo daquela boca pequena e cheia, embora tudo
isto tivesse algum peso. Era a sua ousadia que os atraía – a impressão de que ela não se
importava nem um pouco com a opinião alheia e que faria exatamente aquilo que lhe apetecesse.
Barbara Castlemaine comportava-se como os homens: agarrava o que queria e o resto que se
danasse.
Frances Stuart, que tinha bem mais sensatez do que aquela que julgavam, sabia ter todos os
motivos para desconfiar da amante do rei e tencionava agir com cautela. E, no entanto, sentia-se
mais cativada por Barbara do que esperava. Começava a compreender outra faceta da atração
do rei por ela. Lady Castlemaine era uma boa companhia.