- Por minha fé! – O rei divisara-as juntas e aproximava-se, encantado. – As duas mulheres
mais encantadoras da minha corte... na companhia uma da outra? Não deveriam estar a disparar
dardos envenenados ou, no mínimo, a fitar-se com olhares mortíferos? As más-línguas
encontrarão muito de que falar nesta aliança inusitada. - Pois que o façam, Majestade, já que as más-línguas encontram sempre um motivo para falar
- sorriu Barbara. – Pois nós tencionamos passar mais tempo na companhia uma da outra, não é
verdade, Mistress Stuart? - De bom grado vos acompanharia – ofereceu-se o rei, muito solícito.
- Ah, mas nós, mulheres, precisamos de algum tempo sem homens, mesmo sem reis, para
partilharmos os nossos segredos. – Fitou Frances com uma expressão sardónica, sabendo que as
suas palavras eram escandalosas. – Tenho de conhecer o segredo de Mistress Stuart. Como é
capaz de roubar o coração de um rei e manter a inocência.
Até o rei pareceu admirar-se. - Decerto não se trata de um truque que possa usar, minha senhora.
Barbara não se mostrou minimamente ofendida, mas virou o seu olhar de pálpebras
carregadas na direção dele. - Porém, que jogo seria, se eu passasse por inocente e ela por dama retratada!
Visivelmente agitado, o rei permitiu que o seu séquito o afastasse. - Como consegue falar com ele assim, apesar de estar a gracejar? – quis saber Frances
escandalizada, ainda que não o desejasse estar.
Barbara sorriu-lhe, felina. - O motivo é que somos velhos amigos, eu e o rei, e compreendemo-nos melhor do que
ninguém. Há quem julgue que o percebe muito bem, mas isso não é verdade. Somos ambos
criaturas de opostos. A diferença entre nós encontra-se no facto de eu dizer o que quero,
enquanto ele apenas o pensa. Venha, visite-me amanhã e poderemos conhecer-nos melhor.
Frances segurou no seu lenço de gaze de tafetá e avançou por entre os curiosos presentes,
procurando outra aia para regressarem juntas aos seus aposentos. Contudo, foi Mall quem lhe
barrou o caminho. - Bem, bem, Mistress Stuart. Vejo que faz amigos em sítios inusitados. Surpreende-me ver o
patinho tão disposto a ir visitar a raposa.
Apesar de nutrir carinho pela mulher mais velha, a insinuação incomodou-a. - Talvez eu seja menos o patinho e ela menos a raposa do que nos julga. Ela compreende o
rei como ninguém mais.
Mall esboçou um sorriso trocista. - Lá isso é verdade. Sobretudo em relação ao mais íntimo. E a Frances inveja esse
conhecimento e deseja deter também essa sabedoria. E onde a levaria tal coisa, diga-me? - Gosto do rei, é só isso. É um homem amável e encantador.
- É mesmo, e eu sei-o melhor do que muita gente, tendo sido sua companheira de brincadeiras
em criança. Porém, no que diz respeito às mulheres, a amizade não é a intenção mais comum do
rei.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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