Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Talvez, então, eu não seja uma mulher comum.

  • Talvez não seja. Eu não permitiria que se magoasse, Frances. O rei não é um tirano cruel e
    nunca lhe tiraria algo que não lhe desse de livre vontade. Todavia, tenha cuidado com a
    Castlemaine. Ela tece uma teia e a menina poderá ver-se envolvida numa armadilha de seda.

  • E se eu tencionar tecer algo também?
    Mall encarou-a com uma expressão mais distante do que era habitual.

  • Nesse caso, desejo-lhe boa sorte e observarei com interesse a sua urdidura.


Barbara dedicava o mesmo empenho com que se lançara nos seus muitos casos amorosos a
conquistar a amizade de Frances.
Esta, por seu turno, tinha perspicácia suficiente para perceber o que a condessa pretendia
realmente. E, apesar disso e para sua grande surpresa, tendo em conta que a reputação de
Barbara era tão chocante, descobriu que a dama a quem chamavam «a maldição da nação»
podia ser uma companheira muitíssimo divertida.
Tinha um dom para organizar festas, oferecendo sempre o melhor vinho e as melhores
comidas, bem como os cantores mais melodiosos, e estava sempre a descobrir chefes franceses
de pastelaria que produziam delícias capazes de tentar o mais amargurado dos cortesãos.
Gostava de ter sempre música a tocar, desde que acordava até ao momento em que se deitava na
sua grande cama com uma coberta de «tecido de ouro» e borlas douradas. O seu gosto para o
mobiliário era sofisticado e ninguém a ultrapassava no olho que tinha para a arte. Parecia
dotada da capacidade de descobrir o local preciso onde obras de arte preciosas, roubadas
durante o interregno, se encontrariam, e de as recuperar por metade do que valiam.



  • É um quadro do mestre Rembrandt? – maravilhou-se Frances, quando uma pintura enorme
    apareceu de repente, para ser pendurada nos aposentos de Barbara.
    Ela riu-se, com aquela sua gargalhada gutural, que fazia pensar em vinho do Porto e queijo
    maturado.

  • É, de facto. O Alto Condestável de Norfolk encontrou-o no celeiro de um pequeno
    proprietário e achou que ficaria melhor nos meus aposentos... desde que pudesse ser ele mesmo
    a fazer a entrega. Assim aconteceu, ontem à noite, e ele partiu hoje de manhã, bem satisfeito com
    a troca. – Fixou os seus olhos divertidos em Frances. – Não fique tão escandalizada, Mistress
    Stuart. Já partilhei o meu leito por razões menos importantes do que esta, asseguro-lhe!

  • Mas e o rei?

  • Como estou novamente de esperanças, o rei começa a preocupar-se por poder deslocar o
    infante com a sua verga. – Riu-se a bom rir, enquanto Frances mordia o lábio perante uma
    referência tão explícita ao membro do rei. – Os homens, mesmo os reis, são muito ignorantes.
    Qualquer parteira poderia dizer-lhe que isso não acontece, mas eu não o privo das suas ilusões.
    Para além disso – acrescentou, pendendo um pouco a cabeça para observar Frances –, o
    interesse dele começa a encontrar-se noutro lugar, ao que me parece.
    Frances, compreendendo perfeitamente o que a outra dizia, ergueu o queixo.

  • Se assim é, conheço bem a dama e penso que as possibilidades de o rei lhe conquistar a

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