virtude serão escassas.
- Talvez a dama não saiba quão persuasivo Sua Majestade consegue ser.
E, de facto, a campanha do rei para conquistar Frances Stuart foi sedutora e subtil. Todos os
dias havia algum divertimento gizado para a entreter e encantar. Máscaras, jogos de cartas,
bailes, passeios até à fonte mecânica dos Jardins da Primavera, diante do palácio de Whitehall,
e ao teatro. Iam chegando pequenas prendas. Não do género de joias dispendiosas ou faixas de
seda que um apaixonado poderia enviar à idolatrada, mas coisas amáveis, que denotavam terem
sido pensadas. Um poleiro para o papagaio, feito de madeira com botões trabalhados, para o
qual o pássaro saltou de imediato; um livro de poesia com encadernação de couro; novos
baralhos de cartas para que Frances construísse castelos; um falcão da Moscóvia para que ela o
treinasse; uma bonita caixa de música feita de vidro.
À medida que as semanas avançavam, o tempo permanecia frio, mas Barbara e Frances
estavam quentes e felizes numa carruagem com assentos de veludo, dando voltas ao ringue de
Hyde Park. - Veja, ali está outra carruagem que parou para nos cumprimentar – disse Barbara, com o
sobrolho franzido. – Talvez possa ir ver o que querem.
Frances olhou para ela de lado, pois fazia frio lá fora e a carruagem era muito confortável.
Contudo, Barbara insistiu.
Por um momento, Frances receou tratar-se de um truque, poder deparar-se com o rei lá dentro
e ser levada sabia-se lá para onde. Os seus medos aumentaram enquanto se aproximava, pois
todas as janelas estavam cobertas, sem permitirem que se visse o interior obscurecido e os seus
ocupantes. Frances estava prestes a virar-se quando uma das proteções das janelas foi subida e
revelou a sua irmã Sophia. - Sophy! – guinchou, aliviada de toda a apreensão. Nas outras janelas surgiram o seu pai e o
irmão mais novo, Walter. – Como é isto possível? Não recebi qualquer aviso de que viriam a
Londres! - Frances, viemos para ficar – disse Sophia, muito entusiasmada. – Viveremos em Somerset
House e eu serei aia da rainha-mãe! O pai será o seu médico. Foi tudo tratado pelo rei.
Frances olhou para trás, para Lady Castlemaine, que sorria e assentia com a cabeça como
uma tia indulgente enquanto Sophia saltava da carruagem. Obviamente, estava a par da surpresa,
ainda que Frances não. - Sophy, estás tão diferente. – Segurou a irmã para a observar. – Eras apenas uma criança
quando deixei Paris, mas agora estás uma senhora! Que penteado é esse?
O cabelo de Sophia era um retrato da elegância parisiense, com caracóis muito mais lassos
do que era moda na corte inglesa. - Chama-se hurluberlu!
Sophia abanou a cabeça para Frances lhe admirar os caracóis. Esta também observou o
vestido da irmã, que era cintado e tinha laços, e pediu-lhe que lhe mostrasse o comprimento do
tecido que arrastava. - Agora que vou ser uma dama de companhia, posso usar vestidos com um pouco de cauda...