profissionais no teatro. Para surpresa de Frances, descobriu que era igualmente popular – e
aceite – que homens se vestissem de mulheres e mulher de homem, em ocasiões como estas. Só
uma coisa a intrigava.
- Mas eu sou mais alta do que a senhora. Decerto deveria ser eu a fazer de noivo e a Barbara
de noiva!
Esta recostou-se no assento vermelho da carruagem e sorriu com um ar misterioso. - Não, não. É a senhora quem tem o brilho da juventude inocente. Se eu fizesse de noiva,
haveria assobios e gritos da audiência, dizendo do meu noivo: «Oh, coitado!»
Frances percebeu que assim seria. - Serei então a noiva. E quando representaremos este entretenimento? Agora que a minha
irmã e o meu pai estão em Londres, gostaria de os convidar.
Perante esta pergunta, Barbara remeteu-se a um silêncio estranho. - Terá lugar no palácio de Whitehall? – persistiu ela.
- Terá, com certeza. Mas será para uma audiência privada, não pública.
Frances começou a sentir-se um pouco incomodada. - Privada até que ponto?
De súbito, Lady Castlemaine mostrava-se ríspida e despachada. - Terá de esperar para ver. Será muito divertido. Dou-lhe a minha palavra. Amanhã
trataremos dos nossos trajes.
Nessa noite, depois da ceia, Frances regressou aos seus aposentos e fitou o rio escuro e
agitado. A noite tornara-se agreste e os ventos uivavam sobre Westminster.
Ao lado da janela, o papagaio encontrava-se no poleiro, ajeitando as penas. Julgando que o
tempo o perturbara, Frances estendeu uma mão para o reconfortar. O papagaio mordeu-lhe o
dedo. - Ai! – gritou ela, lambendo o fio de sangue que lhe escorria da ponta do dedo.
- Pássaro esperto – respondeu o papagaio num tom choroso. – Recordar Charles Stuart!
- Pois. – Frances quase bateu com o pé no chão. – E onde está o teu precioso Charles Stuart?
Casado com Mistress Elizabeth Rogers e a viver feliz em Cobham Hall, enquanto eu enfrento
sabe-se lá que perigos aqui na corte!
O pequeno olho amarelo do papagaio observou-a. - A virtude é a sua própria recompensa – comentou pomposamente.
- Exceto nesta corte, pássaro. Aqui, pássaro, a virtude é deveras um atributo sem valor.
- Então, Frances, para si terá de ser cetim amarelo-pálido, com um camiseiro do branco mais
puro: a combinação perfeita para a sua cor clara.
Frances estava diante de um espelho alto no quarto de vestir de Barbara, enquanto uma
costureira lhe ajustava os folhos do vestido encantador. - E a senhora, meu marido, que planeia envergar?
Barbara riu-se. - Serei um cortesão galante, tão vaidoso como qualquer peralvilho emplumado, prometo. –