Fez uma vénia profunda e tirou um chapéu imaginário. – Boa noite, minha noiva!
Da câmara adjacente, ouvia-se música, violas de gamba e alaúdes, que tocavam os acordes
alegres e antiquados que costumavam ser escolhidos para casamentos, e uma voz doce e
angelical começou a cantar um madrigal.
- Leve Mistress Stuart para o quarto ao lado enquanto eu mudo de roupa – ordenou Barbara à
criada –, e dê-lhe um copo de hidromel. Hidromel é a bebida dos casamentos. Acalmar-lhe-á os
nervos. Vão!
Sozinha na câmara adjacente, a bebericar o hidromel, Frances avaliou a situação em que se
encontrava. Algo estava errado, ela sabia. Teria de se manter alerta e recordar as palavras de
Mall: o rei nunca se apoderaria de algo que não lhe fosse dado de bom grado.
Para ganhar mais coragem, bebeu o hidromel todo, e a doçura de limão e mel fortaleceu-lhe a
determinação. Ela não era a tola bonita que as pessoas julgavam. Adorava dançar e cantar e, se
aquilo se tratasse de um entretenimento, ela apreciá-lo-ia, mantendo sempre os olhos bem
abertos.
Avançou até à antecâmara, onde se deparou com um cenário que lhe cortou a respiração. Tal
como se estivessem num palco do Teatro Real, em Drury Lane, Barbara envidara esforços
extraordinários para criar um espaço tão elaborado como o de um teatro. A divisão estava cheia
de velas e flores. Na galeria, havia músicos a dedilhar instrumentos e a cantar. Um idoso
venerável, com um traje religioso, encontrava-se de pé, com uma Bíblia na mão. Ao lado dele,
três cortesãos aguardavam, um deles com uma aliança de ouro. Um pajem ajoelhado segurava
uma bandeja de ouro com dois cálices e havia ainda um rapazinho negro com um toucado
dourado, a agarrar uma meia com ar nervoso.
No meio de tudo aquilo, encontrava-se Barbara Castlemaine, magnificente com um gibão e
umas bragas profusamente adornados, meias de seda e sapatos enfeitados com rosas vermelhas
e brancas, tendo escondido o cabelo castanho sob uma peruca de cabelos pretos e soltos.
Frances estava sem fôlego. Com um bigode fino desenhado a lápis, parecia dar vida ao
próprio rei. - Senhor vigário – ordenou Barbara numa voz grave e imponente –, dê início à cerimónia de
casamento!
O desejo de se virar e fugir apoderou-se de Frances. Não se tratava de uma mascarada
comum, como tantas peças domésticas em que participara quando vivia em Paris.
O alegado vigário deu um passo em frente. - Quem acompanha esta dama?
- Eu, com todo o gosto – disse um dos cortesãos, fazendo uma vénia e dando a mão a Frances
para a levar até ao vigário. - E onde estão as testemunhas?
Dois homens fizeram vénias e juntaram-se a eles. - Caros amigos – começou o falso vigário, como se se tratasse realmente de uma cerimónia
nupcial. – Reunimo-nos aqui, com Deus por testemunha, para unir esta mulher a este homem.
Assentiu com a cabeça, indicando Frances e Barbara. Foi então que, entre as muitas