Capítulo 5
Onde quer que os seus afazeres no palácio de Whitehall a levassem durante a manhã seguinte
- aos aposentos da rainha, à galeria atapetada, atravessando o jardim privado e até quando
acompanhou a rainha à capela – ouvia um burburinho constante de sussurros.
Ao início, julgou estar talvez a imaginá-los, mas, por fim, no exterior da capela, encontrou
Sophia, que a puxou por uma manga para a levar até ao corredor que conduzia ao grande átrio.- Irmã, conta-me tudo! O que aconteceu mesmo entre ti e o rei na noite passada?
- Nada. – De repente, Frances percebia o que poderia estar a dar azo a tantos murmúrios. –
Houve uma charada tola concebida por Lady Castlemaine e eu pus-lhe fim, só isso. Não foi nada
de mais e espero que seja isso o que dirás a quem quer que to pergunte. - Não preciso de o fazer. Corre por todo o palácio que Mistress Stuart rejeitou o rei. – Riu-se
como quando era uma menina de escola. – E depois de ele ter começado a desabotoar-se cedo
de mais!
Frances empalideceu e desejou estar em qualquer outro lugar que não aquela grande fornalha
de boatos, onde a mínima acha de bisbilhotice fazia com que as chamas se inflamassem mais.
Regressando da capela atrás da cauda do vestido da rainha Catarina, olhava apenas em frente.
E então, aconteceu outra coisa estranha. Quando se baixou numa mesura para se despedir, a
rainha estendeu-lhe a mão e ajudou-a a erguer-se. Entreolharam-se somente por um instante
breve; todavia, Frances soube de imediato que não só as aias tinham ouvido o rumor mais
recente, mas também a própria rainha.
Frances agradeceu-lhe e, assim que teve oportunidade, esgueirou-se de novo para o jardim
privado, esperando poder usufruir de alguns momentos sozinha antes de enfrentar o jantar
apinhado de gente e os olhares plenos de significado que receberia das outras damas de
companhia na sua mesa.
Ouviu passos ligeiros a segui-la e, ao virar-se, viu que Mall a seguia. - Bem, Senhora Maquiavel! Não sabia que era uma estratega tão capaz. – Mall falava em voz
baixa, num tom carregado de ironia. – Tal como o resto da corte, devo dar-lhe os parabéns. As
suas palavras são repetidas por toda a parte. Todos a julgavam uma criança bonita. Agora
cantam uma melodia diferente. «De bom vinho, bom vinagre», é o que agora se diz sobre
Mistress Frances Stuart.