Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

A comida servida para a refeição do meio-dia era igualmente apelativa. Pombo assado, tarte
de enguia com ostras, capão com molho de laranja e limão e uma salada de aparência exótica
composta por feijão verde, passas secas ao sol, pepinos e amêndoas peladas.



  • Chiu! – sussurrou Barbara, afetando um ar muito melodramático. – O cozinheiro do meu tio
    roubou a receita a Mistress Elizabeth Cromwell, a esposa do Protetor.

  • Ela cozinhava bem?

  • Sim, o Protetor comia como o rei, para além de lhe invejar a coroa. Ela aconselha um
    acompanhamento de camarão e esturjão. Nós só temos frango assado.
    Depois de terem comido, regressaram à margem do rio.

  • Venha – disse Barbara, virando-se com os olhos iluminados por um dos seus súbitos
    entusiasmos –, o tempo está cálido como se fosse verão. Nademos!
    Nadar fora um passatempo popular no Château de Colombes durante os anos em que Frances
    vivera com Henriqueta Maria, pelo que a água não a assustava.

  • E se alguém nos vê?

  • Estamos sozinhas! O barqueiro está dentro de casa a ser alimentado como um cão pelo
    cozinheiro gordo do meu tio, e em seguida irá dormir. O meu tio foi caçar veados.
    Já tinha despido tudo, exceto o camiseiro, e dirigia-se para os degraus que davam acesso ao
    rio.
    Frances mordeu o lábio mas, tentada também pela água fresca, que ali era muito mais límpida
    do que na cidade, não tardou a seguir Barbara, até que ambas chapinhavam com guinchinhos e
    gritos de prazer.
    Por fim, sentindo frio, pois o sol escondia-se atrás de uma nuvem, Frances regressou a terra,
    quando, a menos de quinze centímetros de distância, um enorme pássaro negro com um peixe no
    bico emergiu da água, como uma criatura antiga e malévola.
    Ela gritou como se o próprio diabo despontasse das profundezas do inferno no Dia do Juízo
    Final.
    O estrondear de um riso masculino acolheu-a enquanto ela corria para a margem e, ao olhar
    para cima, deparou-se com os olhos divertidos do rei.

  • Não receie, é apenas o meu corvo-marinho de estimação. – Deu-lhe a mão e ajudou-a a sair.

  • O meu avô, o rei James, pescava sempre desta forma e tinha um adestrador de corvos-
    marinhos. Mas, senhora, está molhada... – O seu olhar perdurou por um momento na seda
    transparente do camiseiro dela, que lhe delineava o peito jovem e firme. Desviando o olhar de
    forma evidente, começou a despir o casaco. E a rir-se de novo, recordando o que acontecera na
    outra noite. – Nada tema. As minhas intenções sofreram uma grande mudança desde que me deu
    aquela lição. Desta feita, tiro o casaco apenas para lhe oferecer o calor que proporciona.
    Barbara também tinha saído da água, ousada e bela como Afrodite a emergir da espuma.

  • Vou dizer a uma criada que nos traga roupas quentes. Mantenho muitos trajes aqui. – Lançou
    um olhar cúmplice a Carlos antes de partir, mas o rei, concentrado em Frances, mal reparou.

  • Dispa o camiseiro. Fecharei os olhos. E cubra-se com o meu casaco. Aqui tem.
    Em vez de ficar a pingar num camiseiro transparente, Frances apressou-se a vestir o casaco

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