me que o trouxesse e o oferecesse... – O homem calou-se, tomado de um súbito embaraço.
A rainha endireitou as costas estreitas.
- O oferecesse a Mistress Stuart?
O homem fez uma vénia, tirou o capuz do falcão e entregou o pássaro a Frances, que ficou
muito embaraçada. - Oh, pobrezinho, tem os olhos cosidos! – exclamou Frances.
- É sempre assim, senhora – explicou o tratador. – Cosemos-lhes os olhos para os treinarmos
melhor. - Mas será mesmo necessário? – perguntou ela.
A rainha virou a cabeça do seu cavalo para o campo na sua frente. - Tem um coração demasiado gentil, senhora – comentou com secura. – A lei do campo é a da
corte: não se dá, nem se pede piedade. Foi algo que eu tive de aprender e que a senhora terá
também de ficar a saber, se pretende sobreviver aqui.
E partiu, deixando as outras damas com sorrisos trocistas enquanto trotavam atrás dela. - Com que então tem garras, a rainhazinha – comentou uma voz profunda e agradável atrás de
Frances.
Esta virou-se e viu que era Barbara. - Não montará com um falcão, senhora?
Barbara riu-se e levou a mão ao peitilho almofadado. - Dado que espero um filho do rei, não desejo pôr em risco o futuro de Inglaterra.
- Dificilmente seria esse o caso – ripostou Frances –, já que o seu bebé nascerá fora do
casamento.
Barbara sorriu, recusando-se a ficar ofendida com o comentário de Frances. - É melhor estar no lado errado do cobertor do que não o ter. Dizem que a rainha faz tenções
de ir às termas, na esperança de conceber com o rei.
Frances sentiu uma pontada súbita de compaixão pela rainha, forçada a assistir à fecundidade
constante de Barbara, quando se debatia com a sua própria infertilidade. - Esperemos que as termas surtam efeito e que ela nos ofereça um herdeiro.
Barbara limitou-se a sorrir, confiante na sua fecundidade abundante.
Que estranho era, pensou Frances, enquanto via o esmerilhão da rainha mergulhar para matar,
que toda uma nação pudesse ficar tão afetada pela capacidade de uma mulher conceber. Se a
rainha Catarina não desse à luz um herdeiro, o irmão do rei, o duque de York, viria a governar a
Inglaterra, e suspeitava-se que ele fosse católico. Assim, aquela temível questão religiosa, que
tantas mortes e sofrimento havia provocado, poderia voltar a ameaçá-los a todos. - Pronto! Que pássaro astuto. Matou a sua presa – declarou a rainha, com um olhar triunfal de
relance para Barbara.
De repente, levantou-se um vento violento, que soprava nuvens negras no céu, e o dia
escureceu como se a noite tivesse chegado. Desabou uma tempestade terrível, com chuva
fortíssima. Até as penas dos pássaros se abateram, e os seus bicos escorriam água. - Depressa! – gritou Barbara para Frances. – A senhora é uma boa cavaleira. Regressemos a