Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Nada de importante, minha senhora. Vim vê-la porque a condessa de Suffolk requer a
    presença de Mistress Stuart e devo acompanhá-la até ela de imediato.

  • Vão, então. Não quero continuar a ver-lhe a cara... é tão amarga que é capaz de me azedar
    o leite e envenenar o bebé quando nascer.
    Cary fez uma cortesia e virou-se, com um gesto para que Frances a seguisse.

  • E ninguém lamentaria a morte do bastardo – resmoneou quando Barbara já não a poderia
    ouvir. – Pois já deu suficientes ao rei... se é que são realmente do rei, quero dizer. Diz-se que
    há mais cavalheiros a visitá-la do que ao bordel da Madame Cresswell.

  • Então como mantém ela a devoção do rei, se é uma mulher tão devassa como diz?
    Cary Frazier riu-se, um som borbulhante que fazia lembrar um cano sujo a ser esvaziado.

  • É por ser uma mulher devassa, dizem as más línguas. Quando está de esperanças, o rei teme
    pelo bem-estar da criança, pelo que ela o satisfaz com a boca.
    Os olhos de Frances arregalaram-se.

  • Alguns homens têm mais prazer assim. As meretrizes flamengas são requisitadas pelas artes
    que dominam nesse aspeto. Talvez a dama tenha tido as mesmas aulas. – Baixou o tom de voz,
    reduzindo-o a um sussurro, ao mesmo tempo que olhava em redor para se assegurar de que
    ninguém as ouvia. – Também se diz que pediu ao barbeiro que lhe rapasse as partes privadas e
    que estas são tão calvas como a cabeça do embaixador espanhol!
    Tinham chegado aos aposentos reais.

  • Chiu, não devemos falar mais disto na presença da rainha.
    A rainha Catarina estava rodeada pelas suas aias, a bordar um pano de altar com um
    paciência infinita. Apesar de ter aprendido que tolerar a rival, Lady Castlemaine, era um
    caminho de sobrevivência mais eficaz do que o do confronto, as duas mulheres eram tão
    diferentes como uma santa poderia ser de uma pecadora. Enquanto Barbara troçava dos
    sentimentos delicados dos verdadeiros crentes, posando para mestre Lely vestida como
    Madona, tendo ao colo o filho bastardo como se fosse Cristo menino, Catarina era uma jovem
    pia que apreciava acima de tudo acumular relíquias e acrescentar preces votivas à sua vasta
    coleção.
    Contudo, parecia que o rei precisava e desfrutava das duas damas. Evidentemente, tinha uma
    necessidade premente de obter um herdeiro, algo que só Catarina poderia dar-lhe. A
    fecundidade poderia fluir do peito de Barbara como de uma antiga deusa romana da abundância,
    mas nenhum dos seus descendentes resolveria a sucessão real. Para além disso, Frances julgava
    que o rei prezava e respeitava a esposa – desde que esta lhe proporcionasse ampla margem de
    manobra.
    Nessa noite, depois da ceia, grandes grupos de cortesãos reuniram-se tanto nos aposentos da
    rainha como nos de Lady Castlemaine, o que era habitual, para fruírem de música, jogos e
    mexericos. As atividades nos dois salões eram similares, mas no de Barbara a multidão era
    mais agitada e as apostas subiam a valores mais altos. Era costume que o rei dividisse o seu
    tempo por ambos os aposentos, rindo e dançando; contudo, à hora de deitar, encontrava-se mais
    vezes ao lado de Barbara do que junto a Catarina.

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