Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

O ambiente nos aposentos da condessa era fervorosamente alegre, até que, com um faiscar
dos seus famosos olhos violeta, ela dispensava todos, para ficar a sós com o rei.
Naquela noite, ele ficara até muito tarde e Frances, cujas pálpebras começavam a pesar-lhe,
preparava-se para se despedir. Porém, para sua surpresa, foi o rei quem anunciou ir-se embora.



  • Planeemos alguma aventura para amanhã – anunciou –, quando eu terminar as minhas
    obrigações, para que eu possa ter algo por que ansiar durante as minhas discussões sobre as
    incursões holandesas ao nosso comércio, com o chanceler a recordar-me o estado miserável das
    finanças do nosso Tesouro! – E esboçou o seu sorriso amistoso e encantador que o fazia
    conquistar amigos nos mais variados estratos da sociedade.

  • Às seis da manhã já estará a jogar ténis – sussurrou Barbara. – E os cortesãos terão de o
    vencer antes de o persuadirem a tratar de quaisquer afazeres.
    O rei, que se ia despedindo com apertos de mão, aproximou-se delas uma última vez.

  • Boa noite, minhas senhoras, e durmam bem até que o dedo rosado da madrugada vos
    acaricie suavemente para vos despertar.
    Barbara fitou-o com um olhar pleno de significado.

  • Será meio-dia antes que isso aconteça, Majestade. Boa noite. – Passou o braço pelo de
    Frances. – Venha – disse-lhe numa voz baixa –, fique comigo. Já pouco falta para a madrugada
    de que o rei fala e detesto dormir sozinha.
    Frances encarou-a com desconfiança, embora em simultâneo tivesse noção de se sentir
    exausta. As damas de companhia tinham de ficar acordadas enquanto a rainha permanecesse a
    pé e, ultimamente, a rainha Catarina começara a manter-se desperta quase até o sol raiar.
    Bocejou.

  • Venha, será como partilhar a cama com a sua irmã. Aqui está uma camisa de dormir – disse-
    lhe, agarrando numa peça do mais fino e fresco linho que existia.
    A grande cama já tinha os lençóis recolhidos e um robe de seda disposto sobre a coberta. Aos
    pés, um mouro sonolento que não teria mais do que cinco ou seis anos encontrava-se num banco
    de veludo, aguardando as ordens da sua ama.

  • Vai, menino, já não precisarei de nada esta noite.
    Barbara fez-lhe uma festa na cabeça, demonstrando uma delicadeza surpreendente. Contudo,
    pensou Frances, não tivera a consideração de o deixar ir dormir mais cedo.

  • Vou despir-me ali – disse Frances, a apontar para o espaço entre a grande tapeçaria em
    frente da parede e a própria parede.

  • Tanto recato! – riu Barbara. – Como preferir.
    Quando surgiu já com a camisa de dormir, Barbara encontrava-se em frente ao toucador onde
    colocara o espelho, destapando um frasco de vidro.

  • Cheire – ordenou-lhe.
    Frances inspirou profundamente e fechou os olhos. O aroma a jasmim era tão forte que lhe
    parecia estar de novo nos jardins do Palais Royal, no pino do verão, onde havia um pequeno
    pavilhão envolto em flores miudinhas e brancas.

  • Olhe, deixe-me massajar-lhe as têmporas com isto... vai ver que dormirá melhor do que

Free download pdf