nunca.
Sentou Frances num banco e afastou-lhe o cabelo do rosto com uma fita estreita. Com gestos
muito delicados, começou a ungir-lhe a testa com o óleo perfumado. Era de facto uma
experiência agradável.
- Então – quis saber Barbara, enquanto continuava o movimento lento e sensual –, como ficou
com um nome tão enfadonho como Frances? É um nome adequado para a mulher de um burguês
da Escócia, gorda e anafada, que passe a vida de joelhos.
Frances, a quem a exaustão e as sensações prazenteiras quase adormeciam, não deixou de se
rir. - É verdade! Batizaram-me em homenagem à esposa do velho duque Ludovic Stuart.
- Já que lhe chamam La Belle Stuart, passarei a tratá-la por Belle. – Barbara voltou a fechar
o frasco. – Vamos, para a cama, antes que caia no chão.
A amabilidade na voz de Barbara confundia Frances ainda mais. Meteu-se na grande cama e
sentiu o fascinante deleite da roupa fresca, que exalava um ténue aroma a alfazema. - A roupa da minha cama é mudada todos os dias – comentou Barbara com uma risada. – Uma
extravagância monstruosa, que implica ter sempre lençóis pendurados nos jardins privados...
mas é maravilhoso, não concorda? - Realmente – respondeu Frances, ensonada, com o cabelo louro a espraiar-se na almofada
como uma onda de seda da cor de milho. - Partilhar uma cama traz-me tantas memórias... – O entusiasmo febril de Barbara, desta vez,
tinha abrandado. – Muitas vezes dormi na mesma cama com a Mall Villiers.
Frances despertou momentaneamente e fitou-a, tomada de surpresa. Mall nunca mencionara
tal intimidade. - Somos primas, recorde-se, e passávamos muito tempo juntas quando éramos donzelas.
Depois vieram os problemas e tudo mudou. O velho rei casou-a com um parente dele, tinha ela
treze anos. Depois o rapaz morreu. Coitada da Mall, viúva antes de ser verdadeiramente noiva.
E depois casou com o meu primo James; não foi um casamento por amor, ainda que ela tenha
aprendido a gostar dele. Os meus pais faleceram e eu fiquei sem dote, vivendo do meu engenho.
E o monstro do Cromwell condenou o rei à morte. Que tempos terríveis. – Fechou os olhos,
como se assim se protegesse de tanta morte e perda. – E, no meio de tudo isto, apaixonei-me! E
se eu era esperta, cheia de vivacidade e rebelião!! – Frances apercebeu-se da amargura que
perdurava ao fim de todos aqueles anos. – Apaixonei-me por alguém que não me queria. Foi
com todo o gosto que me levou para a cama mas, como eu não tinha dote, não me propôs
casamento. Sua Senhoria precisava de uma mulher rica.
Frances virou-se, lembrando-se de súbito do novo duque de Richmond, com a sua auréola de
cabelo arruivado e os olhos cinzentos e risonhos. Ele também tinha precisado de uma herdeira. - Enfurece-me tanto que estejamos sempre à mercê do dinheiro – insurgiu-se com uma
animosidade repentina. – Detesto que não tenhamos liberdade de escolha! - É assim o mundo. Agora, tenho um rei.
Frances não acrescentou: «Pois, mas não é verdadeiramente seu.»