Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Durma, ou a madrugada de que Sua Majestade falava não tardará a alcançar-nos.
    Barbara apagou a vela e Frances virou-se para as janelas de onde se viam os jardins
    privados. Algures ao longe, ouviu o pregoeiro anunciar, enquanto fazia as suas rondas, que eram
    duas da manhã e a lua brilhava. A seu lado, a maior cortesã da corte da Restauração ressonava
    levemente.
    Com um sorriso nos lábios, adormeceu e teve um sonho estranhíssimo e muito vívido.
    Não era Frances Teresa Stuart, filha de um humilde lorde escocês, ainda que tivesse um
    parentesco remoto com os Stuarts da realeza; por alguma circunstância bizarra e assombrosa,
    tinha uma coroa e estava sentada num trono. Frances Teresa Stuart era rainha de Inglaterra!
    Sentou-se, assustada e a tremer, e descobriu que a realidade era ainda mais estranha.
    As roupas da cama tinham sido puxadas e as fitas de seda da sua camisa haviam sido
    desatadas, pelo que tinha o peito à mostra.
    De pé, ao lado da cama, estava o rei – não num sonho, mas numa realidade evidente e segura,
    em camisa de dormir sob uma casaca de um brocado muito elaborado, observando-a numa pose
    estranhamente abstrata, quase como se não fosse de carne e osso mas uma efígie. Ao lado dele
    encontrava-se Barbara Castlemaine, com uma expressão orgulhosa de posse, como se dissesse:
    «Veja, ei-la deitada à sua frente, mas na minha cama, não na sua.»
    Vendo que ela tinha acordado, o rei estendeu a mão para lhe tocar no peito quente e pulsante.
    Apesar da estranheza da situação e da raiva que sentia por estar a ser exibida daquela forma,
    o mamilo de Frances enrijeceu quando ele lhe tocou. Nunca um homem a havia tratado assim e,
    enquanto os dedos dele lhe roçavam a pele, ela foi invadida por uma sensação maravilhosa e
    excitante.
    Chocada e mortificada, pois a reação fê-la recordar como se sentira quando o duque a fitara
    com igual desejo, desviou o olhar. Superaria a sua perversão tudo o que era capaz de imaginar,
    para se deixar levar com tanta facilidade?
    O rei, intensamente impressionado pelo efeito que a sua abordagem surtira nela, segurou-lhe
    o queixo com a mão e obrigou-a a olhar para ele, com um sorriso de imensa ternura que lhe
    aliviava a dureza das feições.
    O momento foi tão vertiginoso que, ao lado do rei, a superioridade orgulhosa de Barbara deu
    lugar a uma emoção distinta. Ela julgara que o rei se fartaria da inocência infantil de Frances e
    começara até a suspeitar que ela poderia ocultar uma natureza frígida ou pudica. Contudo, a
    intensidade da reação da jovem contrariou essa suspeita. Era óbvio que Frances era capaz de
    paixão sexual. E o rei cria ter sido o primeiro homem a mostrar-lho. Uma excitação tão
    estonteante seria deveras poderosa – mais, talvez, do que qualquer outra que ela conseguisse
    suscitar.
    Frances, apesar de escandalizada com a resposta do seu corpo, pensava rapidamente. A única
    forma de escapar daquela situação não seria comportar-se como uma virgem ofendida, mas
    antes servir-se do humor.
    Puxou as fitas da camisa de noite, tapando-se, e sentou-se.

  • Vossa Majestade! – exclamou num tom natural, como se encontrar o rei a quinze centímetros

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