Capítulo 6
A corte do rei Carlos II estava escandalizada.
Tinha ouvido os boatos alusivos às muitas amantes de que Sua Majestade desfrutara durante o
seu exílio; vira-o cortejar Barbara Castlemaine e elevá-la de plebeia a condessa; reconhecia
que Mister Chiffinch, o seu mordomo-mor, lhe enviava centenas de mulheres aos aposentos; até
aceitara que o rei e o irmão frequentassem a companhia de meretrizes nos bordéis de Londres,
fazendo-se passar por cavalheiros comuns.
Porém, nunca antes testemunhara algo assim: o rei perdera o coração. E por uma jovem
decente, honesta e solteira, de nascimento nobre.
Não faltavam boatos por toda a corte sobre o modo como Frances Stuart tinha conseguido tal
milagre. Não teria sido através das costumeiras artes negras da promiscuidade e da sedução,
pois a dama parecia virtuosa. O rei, doente de amores, definhava.
- Até tem escrito poesia! – sussurrava Lorde Rochester, o maior dos libertinos que
prosperavam na corte da Restauração, ele próprio nenhum poeta de desprezar. Reunira um grupo
de galãs à sua volta na Taberna do Diabo, em Fleet Street, para que escutassem os versos do rei.
Saltou para a mesa da taberna sob a estátua de Ben Johnson e começou a recitar: - Passo todas as minhas horas numa gruta sombria...
Então é isso que ele chama à Castlemaine ultimamente...
Mas se não vejo o meu amor não vivo o dia;
Procuro em todos os passeios a minha Phillis... (leia-se Frances onde diz Phillis,
rapazes) desaparecida,
E suspiro quando relembro ter estado sozinho em companhia;
Ó, então, é então, que julgo outro inferno não existir
Como o de amar, como amar demasiado é este sentir.
E há mais, rapazes, há mais!
Quando estou só a recordar todos os seus encantos