lado.
Mall sobressaltou-se, com ar culpado, quando Frances se sentou à beira da cama. Como
convinha a uma filha da grande casa de Buckingham, que para mais era dama de companhia,
Mall tinha aposentos privativos em Whitehall, com vista para o átrio empedrado.
- Bom dia, minha senhora.
Frances sentiu uma pontada de culpa. Desde que se aproximara de Barbara, Mall mantinha
uma distância reprovadora. - Então, como a tem tratado a Grande Meretriz de Whitehall?
Mall olhou de relance para Mary, mas esta estava habituada aos modos francos da mãe. - Quem me dera nunca mais a ver!
- Ah! – Mall endireitou-se, encostada às almofadas. – Ai é assim? Qual foi a transgressão da
Barbara? Deixou escorregar o véu de seda e revelou ser uma alcoviteira que colhe as raparigas
mais formosas do país... e que a senhora é a mais apetecida?
Frances conteve um soluço. - Levou o rei a ver-me enquanto eu dormia.
Mall riu-se, embora não com maldade, e deu-lhe uma palmadinha na mão. - Se ele só olhou, a senhora é diferente de mil outras raparigas, nobres e plebeias.
Frances ficou cheia de vontade de lhe confidenciar que o rei lhe tocara e que reação isso lhe
provocara, mas não podia, dada a presença de Mary. - Vamos, levantemo-nos e deixemos a Mary com a ama. Na verdade, estou fascinada. Se
ainda não se deitou consigo, o rei estará a quebrar os hábitos de toda uma vida. Gostaria de
saber qual é o seu segredo.
Quando atirou as cobertas para trás, deixou cair uma carta. Frances debruçou-se para a
apanhar mas, antes que a alcançasse, Mall antecipou-se e escondeu-a junto ao peito. - Ah – comentou Frances com um sorriso –, então não sou a única com segredos. É de um
cavalheiro?
Mall levantou a filha da cama. - Vai, querida. Vai ter com a ama, que está no quarto ao lado.
Mary assentiu com a cabeça e foi-se embora, transportando cuidadosamente o livro que tinha
estado a ver. - Ela está cada vez mais parecida consigo.
- Pois, mas tem o cabelo do meu marido! Brilha como uma moeda nova. – De súbito, os
olhos de Mall imbuíram-se de tristeza. – O meu marido James tinha-o assim, tal como os seus
três irmãos. Eram jovens tão elegantes, tão risonhos e corajosos... Abatidos, todos eles, antes
de serem verdadeiros homens. O George, que ainda não tinha vinte e quatro anos, foi o soldado
mais valente na batalha de Edgehill; o jovem John, na de Cheriton. E o Bernard, que combateu
com o príncipe Rupert, foi morto mesmo à frente do rei, em Rowton Heath. – Abanou a cabeça. - Que desperdício. Foi por isso que o meu James se tornou duque de Richmond, por os irmãos
terem morrido. E agora é o seu Charles. – Tornou a olhar para Frances. – Mas já sabe da
novidade? Parece-me que é possível que o nome Richmond nunca comporte felicidade