Por um instante, ficaram frente a frente na rua buliçosa, a fitar-se, sem nada dizerem.
- Master Stuart – acabou Frances por dizer. – Quero dizer, Vossa Senhoria. Como está?
- Não me chame Vossa Senhoria. Nunca contei com tal honra e considero-a muitíssimo
estranha. Passo bem, creio.
Já mais perto dele, ela apercebeu-se de que as suas feições algo arrapazadas estavam com um
ar agastado, como se ele tivesse suportado uma grande tempestade e receasse não tornar a ver
terra firme. - Passa, senhor? Queira perdoar-me, mas parece um pouco mudado desde a última vez que
nos vimos. - Pois. Nota-se assim tanto no meu rosto? – Desviou o olhar. – A minha mulher, a Elizabeth,
morreu de febre puerperal há um mês; e a nossa querida filha não lhe sobreviveu.
Frances ficou sem ar. Deveria ser aquilo a que Mall se referia quando falara da maldição do
nome Richmond!
Apressou-se a estender uma mão, num gesto de compaixão. - Não sabia. Lamento imenso o seu infortúnio.
Charles Stuart, tão alegre e provocador na última vez que se tinham encontrado, encolheu os
ombros. - Sim. Apesar da grande ventura de me ter tornado duque de Richmond, não me parece que
Deus me tenha sorrido. Na verdade, caí num certo desespero. - Justificado, perante um golpe tão cruel... perder assim a esposa e a filha.
Aproximou-se mais dele e, ao fazê-lo, detetou um aroma penetrante a brandy. Sem querer,
contraiu o nariz, surpreendida. - Pois – confirmou ele, numa voz áspera e amargurada –, encontrei consolo no álcool. Está
chocada? Considera-me para lá da redenção? – Antes que ela pudesse responder, ele
prosseguiu: – Mas a senhora elevou-se muito. – A mágoa e a amargura soavam como um cinzel
numa laje fria. – Na corte, todos falam de La Belle Stuart e de que o rei a ama como nunca antes
amou uma mulher e, desta vez, tanto com o coração como com o... – Interrompeu-se. - Na verdade, senhor – ripostou Frances, magoada pelo tom agressivo dele –, não deveria
dar ouvidos aos rumores da corte. Hoje dizem que o rei me ama, amanhã dirão que venera outra
dama. - Mas eu até assisti a Lorde Rochester, que é amigo íntimo de Sua Majestade, a anunciar que
nunca vira o rei tão apaixonado como está por Mistress Stuart. Lorde Rochester afirmou que lhe
parecia que o rei não sabia o que era o amor até ter encontrado a linda Frances. - Esquece-se de que o rei tem uma esposa, senhor. E eu não faço tenção alguma de ser
amante. - Então o meu coração pode condoer-se do rei. – Charles esboçou um sorriso lento e
doloroso. – Pois também eu sei o que é amar sem qualquer esperança de conquistar a amada.
A expressão do seu olhar atingiu-lhe a própria alma, pelo que Frances teve de desviar o
olhar. - Mistress Stuart! Frances! Aqui está. – Quaisquer perguntas que pudesse fazer acerca do que