Capítulo 7
A cena que a esperava não poderia ser mais diferente daquela que imaginara.
Ao invés de se encontrar quase nu num divã, o rei estava vestido com as suas habituais
roupagens elegantes de veludo negro e rendas douradas e prateadas, sobre as quais usava um
avental de tela, como o de um carpinteiro ou outro artesão, tendo na mão esquerda um pássaro.
Ele riu-se da expressão dela, adivinhando astutamente parte dos pensamentos que lhe haviam
preenchido a mente.
- Pobre Belle, que é o que Lady Castlemaine passou a chamar-lhe segundo sei. Contava com
um Monstro que estivesse à sua espera para lhe desonrar a inocência? – Riu-se, ainda que com
ternura. – Minha querida, não sou um Monstro nem um Barba-Azul. Entre. – Virou-se para um
homem de meia-idade, com uma peruca grisalha, que se encontrava a seu lado. – Progers, dê o
pássaro a Mistress Stuart.
Ainda atónita, Frances estendeu o braço.
Em vez de saltar para a mão que Mister Progers lhe oferecera, o pássaro voou de imediato
para Frances. - Veja só o gosto dele, Progers!
Este sorriu com delicadeza, depressa compreendendo o papel que se esperava que
desempenhasse, que era o de aliviar alguma da tensão que existia entre Frances e o rei. - É verdade, Majestade.
- Mister Progers é o meu gentil-homem da câmara, Belle. E também é meu assistente em
várias experiências.
Frances olhou em redor, vendo pilhas de folhas cheias de números, diagramas pendurados na
parede, uma pintura a óleo que representava a dissecação de um cão, para além de inúmeros
instrumentos, que ela presumiu servirem algum propósito científico. A paixão que Sua
Majestade nutria pelas ciências era do conhecimento geral. - Mas este pássaro é melhor do que tudo. Só o tenho há um dia e já aprendeu a assobiar
melhor do que aqui o Progers. – O gentil-homem tornou a sorrir delicadamente, resignado na
posição de alvo de piadas do rei. – Ouça, já imita o tiquetaque de um relógio.
O pássaro obedeceu. - E também dá as horas!