Com a cabeça inclinada para o lado, o pássaro reproduziu o som de dez badaladas.
- Imita o pregoeiro...
O som de um sino de mão fez-se ouvir na divisão, seguido da voz do pregoeiro público, como
se estivesse ao lado deles:
- Doze badaladas, senhores, numa bela noite enluarada.
- Não é a Oitava Maravilha do Mundo, Belle? – perguntou o rei, encantado, como se nada
(nem dádivas de príncipes, nem um tesouro) pudesse proporcionar-lhe um prazer maior. – O
melhor é que aprendeu uma canção que lhe ensinei para que lha cantasse. – Voltou a chamar o
pássaro para a sua mão. – Vá, pássaro, dá o teu melhor pela Belle.
O pássaro fitou Frances com o seu olho redondo e amarelo, como se compreendesse bem o
papel que desempenhava no galanteio e no entretenimento dela, e começou a cantar:
Num certo amanhecer
Estava o sol a nascer
Ouvi uma donzela a cantar
Lá em baixo no vale.
Oh, não me engane,
Oh, nunca me abandone,
Como pode assim abusar
De uma pobre donzela sem igual?^11
Frances bateu palmas e riu-se.
- É mesmo um menestrel divino. E, no entanto, Vossa Majestade, por que motivo as canções
falam sempre de donzelas enganadas e esquecidas?
O rei fitou-a com intensidade.
- Por vezes, pode ser o homem quem é enganado e esquecido.
Frances apressou-se a desviar o olhar.
- Levo o pássaro, Majestade? – perguntou Mister Progers.
- Dê-lhe sementes. Merece ser recompensado.
Desejando distrair o monarca, Frances virou-se para o equipamento disposto sobre a mesa.
- Que experiências está a fazer, Majestade?
Carlos esboçou um sorriso triste.
- Como manter um coração partido a bater.
Ele estendeu a mão e agarrou-a por um pulso, enquanto Progers desaparecia discretamente
com o pássaro.
- É uma experiência em que poderia ajudar-me, minha bela Frances.
Ela sentiu o hálito quente dele no seu pescoço quando ele se debruçou, e em seguida a boca
do rei estava encostada à sua.
Passado um momento, ele fitou-a, com os olhos negros a perscrutarem os dela.