Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • É realmente tão fria como deseja parecer? Sei que sentiu o despertar do tremor da paixão
    na outra noite.
    Frances devolveu-lhe o olhar. Não compreendia o que levara o seu corpo a reagir daquela
    maneira, mas havia algo que sabia: o olhar desejoso do duque de Richmond provocara-lhe uma
    agitação correspondente. Com o rei, a sua reação fora carente de emoção, como quando se
    estremece por causa do frio. Porém, como poderia dizer-lhe isso? Afastou-se, verdadeiramente
    confusa.

  • Majestade, tenho de ir. Esperam-me muitos deveres.

  • Com a minha esposa, a rainha? Cuja presença tanto gosta de me recordar? Vá, então.
    Depois de ela ter partido, o rei chamou Progers.

  • Peça à Mall... a Lady Mary... que venha ter comigo, por obséquio. Esperarei por ela aqui.
    Voltou-se para as suas experiências. Mas Progers percebia que não o fazia com vontade.


Mall estivera a preparar-se para acompanhar a rainha numa caçada com falcão. Quando
Progers a encontrou, e lhe transmitiu a convocatória do rei, as outras damas arquearam as
sobrancelhas, curiosas.



  • Gostaria de saber porque quererá Sua Majestade ver a Mall com tanta urgência – comentou
    Catherine Boynton em voz baixa.

  • Como se nós não soubéssemos – replicou Cary Frazier num tom trocista, puxando o
    damasco rígido do seu vestido um pouco para baixo para expor mais o peito. – A casta Diana
    continua a eludir a seta do caçador. Esperemos que em breve se canse da perseguição.
    Mall seguiu Progers com as costas muito direitas e a mente agitada. Também ela adivinhara o
    motivo da convocação, mas não sabia como haveria de responder.

  • Minha querida Borboleta! – Carlos cumprimentou-a com um sorriso pronto. – Como está a
    pequena Mary?
    O rei adorava crianças e lembrava-se sempre dos seus nomes.

  • Bem, Majestade. Já tem dez anos e a cada dia que passa fica mais parecida com o irmão.
    O rosto do monarca ficou grave e compassivo.

  • Sim, foi uma perda terrível. A varíola, de todas as enfermidades, é a mais cruel. Ainda
    recordo a graciosidade e o riso do meu irmão Henry e também da Mary. Dizem que o filho, o
    William, nunca recuperou da perda da mãe. – Segurou a mão de Mall entre as suas. – Mas
    precisamos também de ter alegrias neste vale de lágrimas. Mall... Borboleta... ando
    perturbado. Também eu sou como uma borboleta apanhada numa rede, a bater as asas com um
    desespero cada vez maior, até se libertar ou morrer.
    Mall mordeu o lábio.

  • E que posso eu fazer para o ajudar a libertar-se, Majestade?

  • Ajude-me a conquistá-la. Mall, tenho de a ter.
    Desde os seus tempos de jovem ávido, em cuja vida ainda não haviam sido escritas dores ou
    desilusões, que Mall não o ouvia falar com tanto ardor.

  • Ela é o sol na primavera, a brisa que amadurece o milho... só ela pode restaurar-me e

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