Época – Edição 1077 (2019-02-25)

(Antfer) #1
50

desembolsamR$ 50 ou R$ 60, masosapoios
maisgenerosossão inconstantes. “O Apoia.se
me dá um salárioquese alteramês amês. É
bomver umnovoapoio,perceberque tem
gente acreditandono projeto,mas, quando
umapoio écancelado,eufico numa insegu-
rança louca,pensando se fiz algoerrado.”
De agosto de 2017 atéasemanapassada,
Fernandesdeu aula de sociologia na Univer-
sidadedeBrasília (UnB).Primeirocomopro-
fessoravoluntária —sem salário —edepois
comoprofessorasubstituta.Recentemente,
investiuem equipamento paraproduzir um
documentário sobreoqual preferiunão dar
detalhes. “Nesteanoquero oferecercursos
on-lineparaaproveitarmelhorfinanceira-
mentemeu tempo. Nãoserãosóvídeos pré-
gravados. Mesmoàdistância, querotambém
tirarasdúvidaseacompanhar odesenvolvi-
mentoacadêmicodos alunos.Nãovai ser um
dessescursos baratinhos,de R$ 50 pormês”,
disse. “Eunão possoviver de publicidade co-
moos influenciadoresdigitais.”Noentanto,
agências de marketing andaram perguntando
se ela teriainteressenuma parceriacoma
Coca-Cola—“ACoca-Cola!Eu nãobebo
Coca-Cola há trocentos anos!”—ecoma
Koleston,marcadetintura capilar.“AKoles-
ton nãoénem umamarca vegana! Acho que
as agências nãoolhamoconteúdodos vídeos,
só veem meucabelolouroeminhacarapa-

drãozinhoeachamque eu adoraria fazerstories
paraaKoleston.Isso nãovai acontecer!”

N

um vídeopublicadono anopassado,Fer-
nandesrecorreuao conceitode apartheid
paraexplicaraquestãopalestina.Paulo Ghiral-
delli, professorda UniversidadeFederalRural
do Rio de Janeiro(UFRRJ)eyoutuber,discor-
douda análiseeachamoude “minhafilha”,
disseque ela era “meioburralda”esugeriuque
ela voltasse“paraoensinobásico”.Guiraldelli
já foi alvode protestos na UFRRJdepoisde co-
mentáriosconsideradosdiscriminatórios em
salade aula. No final do ano,Fernandesde-
nunciouGhiraldelli no tribunalda internet,
porque seguidores estavampedindoqueela
gravasseum vídeocomele, numesforçopara
uniroprogressismoyoutuber. Fernandessere-
cusou. “PessoascomoGhiraldellisão comuns
no campo progressista, dizemquesão feminis-
tas porqueescreveramquatro artigossobreJu-
dithButler.Édemorrer!”,afirmouFernandes.
Ghiraldellinãose arrependede seuscomentá-
rios.“Ela achaquehá apartheid em Israel.E
teimanissopor causa da ideologiade esquerda
queadominaacriticamente. Qualquerpessoa
quemoraem Israelou na Faixa de Gaza,mes-
mosemqualquerdiplomade sociologia,não
diria issonemmetaforicamente. Essagarotada
quefaz sociologia tempouco apreçoateorias
efatos, eadoraproselitismoideológico. Não
adianta quererensiná-los”,disseaÉPOCA.
Os haters de Fernandesse dividemem dois
grupos:os queaxingamde “socialistade
iPhone”eosmachistas.Algunssão membros
dos doisgrupos.“Tem uns carasmaissectários
na esquerda,queeu suspeitoquenunca paga-
ramum boletona vidaenão gostamde femi-
nismo,que olhamparamimedizem‘Ah,sua
feministaburguesa!Nãoexistefeminismo
marxista!’”,contou.“A direitaéaqueleclássi-
co do ‘esquerda caviar’.Eu achoatéengraça-
do erespondo:‘Caviar?Eu sou vegana!’.”
Eladá broncaquandoalunosmandam
mensagensnasredessociaisendereçadas
nãoàyoutuber,mas àprofessora.“Fui fican-
do maischata comprivacidadeaoperceber
quealgumaspessoasse aproveitamde vul-
nerabilidades suas,de detalhes de suavida
pessoalparacríticasdesleais”,afirmou.
“Queroqueas pessoasme vejamcomouma
referênciaacadêmicaepolítica,não como
um modeloaser seguido.Éoconteúdoque
eu passoqueéinteressante. Eu não.”

Ofilósofomarxista
Herbert Marcuse éum
dos pensadorescitados
por Sabrina Fernandes,
“a paquita das trevas”,
de acordocom haters de
direita. Ocanal de
Fernandes no YouTube,
oTese Onze, tem quase
130 milseguidores


JEFFGOODE/TORONTOSTARVIAGETTYIMAGES

ALUTADEVÍDEOS
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