Época – Edição 1077 (2019-02-25)

de chegaràCidade doMéxico,vindade

um povoado de Oaxaca,umdos estados

maispobres do país.Liboinspirou aperso-

nagemCleonoaclamadofilmeRoma,que

levaonomedobairro tradicionaldacapi-

tal mexicanano qualodiretordo longa,

AlfonsoCuarón, morou ecresceu, criado

por Libo.Cida eLibo tinhamemcomum a

necessidade de trabalhar eavontadedefa-

zer dinheirona cidadegrande. Dedicaram

vários anoscomoempregadasdomésticas

afamíliasdeclasse médiaaltaesuasvidas

acabaram entrelaçadas comas delas, em

momentos de altosebaixosque refletem

tambémahistória de seus países.

Em março,abrasileiraCida completa41

anoscomoempregadadoméstica de uma

família na ZonaSuldeSão Paulo.Foi indi-

cadapor uma irmãque já moravanacida-

depara trabalharnacasa de uma funcioná-

ria pública que tinha marido,trêsfilhos ea

sograsob omesmoteto.“Naquelaépoca,

era muito fácil achartrabalhoem casade

família. Era só falarcom algumconhecido

que rapidinho alguémdizia que precisava”,

lembrou Cida.“Hoje as famíliascontratam

empresa parafazerlimpeza. Colocamas

criançasemescola de horáriointegral. As

casasficarammenores.”

Desdeaépoca do lançamento do filmeQue

horas elavolta?,de2015, que tem comoprota-

gonista umaempregadabrasileira,asituação

das domésticaspiorou.Arecessãoeconômica

de 2015 e2016 earecuperaçãolenta de lá para

cá tiveram um efeito perversotambém no

mercadodas trabalhadorasdomésticas.Coma

expansãoeconômicaentre 2002e2011,as

oportunidadesdetrabalhoequalificaçãocres-

ceram.As filhasdas domésticasforamestudar

epassaramanão seguiraprofissãodas mães.

Masacrise econômicaacabousendouma pa-

rede instransponível. Muitas delastiveramde

interromper seus sonhosetrabalharcomodia-

ristasou mensalistas.Isso fica claroquandose

observa que onúmerode domésticasanalfabe-

tas edas que não concluíramoensinofunda-

mental caiu.Em 2018,29% das domésticasti-

nhamoensinomédiocompleto,umsalto so-

bre os quase21% de quatro anosantes. São

mulheresqualificadasparaoutrasocupações

que, pela crise,tiveramde recuarao trabalho

domésticopara conseguiruma remuneração.

AmineiraMargarete
TeodoradeDeus,
(à esq.)criousozinha
ofilho Carlos,
que se formará
engenheiro neste ano.
Arecessão de 2015
e2016 fez com que
muitas filhas de
empregadas domésticas
interrompessem
osonhodeseguiroutra
profissão, obrigando-as
atrabalharcomo
diaristas ou mensalistas

FELIPEDANA/APPHOTO