Época – Edição 1077 (2019-02-25)

(Antfer) #1

A


máquina de governotem de ser afiada e
afinada,costumaresumiropresidente
da República na linguagemmilitarizada que o
caracteriza.Para seguir aimagemde Jair Bol-
sonaro, oentouragepresidencialem 45 dias
de governotem sidoestimuladorconstante
de faíscas eacidentes de manejoque violam
regraselementares da segurança no trabalho.
Aequipe em tornodo presidente—in-
cluindo opoderincomensurável dos três fi-
lhos —está entreosgrupos mais conflituo-
sos na memóriapolíticabrasileira.Essede-
sempenhoétragicamente admirável na his-
tória de um país que já demonstrouque fa-
mílias presidenciais costumamser vértices
danososde crise—osnúcleosfamiliares de
Vargas aCollorsão exemplos extremos.
Os bolsonaristas comacessodireto ao Pa-
láciodo Planalto estão unidospelodesejoco-
mumdeajudaropresidente ater sucesso,
mas demonstram cadavez maisestarprofun-
damente divididospor ideologia,tática eha-
bilidadepolítica.No centro do problemaestá
um presidente orgulhosamente livredequal-
querdoutrinapolítica convencionalequese
gabade sua capacidade de mudar conforme
as circunstânciasexigem. Como resultado,os
assessoresefamiliares gastammuitotempo
disputandosua atenção —eopresidente, pe-
lo vistorecentemente, enreda-se comprazer
nessemar de queixumesepequenezas de dar
inveja alíderes de grêmios estudantis.
Adivulgaçãode mensagenstrocadasen-
tre Bolsonaroeoex-ministroda Secretaria-
GeralGustavo Bebiannodeixouopresidente
em desconfortável situaçãode porta-vozde
umarealidadepeculiar —paranão dizer,
por cordura, falaciosa. Oamadorismoea
faltade comedimento que caracterizampar-
te expressivado primeiroescalãoparecem
ser apenasreflexodo líderque ainspira.
Amaneirainfantil edescabida comoCar-
los Bolsonaro, vereadorcariocapeloPSCe

filhodopresidente, imiscuiu-seem questão
internado governoparadenunciar oque te-
ria sido umadeclaraçãomentirosadoex-mi-
nistro só não foi maisgrosseira do queoen-
dossopúblico que recebeude Bolsonaro.
Oagoraex-ministrodissera ter conversa-
do três vezescom ochefedo Executivo,que
aindaconvalescia de cirurgia em São Paulo,
informação publicamente contestadapor
Carlos eavalizada pelopai. Comadivulga-
ção dos áudios da conversa,opresidente fi-
cou expostoaumpapel constrangedor.
Nemosmais tenazes opositores de Jair
Bolsonaropoderiamimaginarque onovo
governofossealimentar de modotão im-
previdente umacrisepolíticacomas di-
mensões da que se instaurouemBrasília,
cujoeixoprincipalestáem concordarse
trocade mensagens eletrônicaspodeser ou
não definida comoconversa.
Acrise políticaem cursonãonasceu
do provável desvioirregular,grave ecri-
minosode fundospúblicosna campanha
eleitoral.Sobejamindíciosde malversação
de recursos no envio de dinheiropara
candidatos laranjas do PSL,alegendapre-
sidencial, na campanhaeleitoralpassada.
Éfatoque nadaindicaaparticipaçãodire-
ta do presidente nessecasoespecífico.Bol-
sonaro temrazãoquando, no áudio re-
cém-divulgado,esquiva-se da “batata
quente” lançadaem sua direção.
Entre os muitos motivosde perplexidade
queaaudiçãodas mensagenspresidenciais
provoca,oparoxismodo amadorismopolí-
ticoestá nas manifestações lamentáveis do
presidente arespeitoda imprensaenafor-
ma comaqual os integrantes do poderli-
damcomainstituiçãoeseus representantes.
Trataopaláciodoqual éhóspedetemporá-
rio comocasa echamade inimigosaqueles que
diligentemente zelampelo direito àinformação
eàtransparênciadacoisa pública.

doseditores


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AMADORESEBELICOSOS

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