As atrizes Camila
Márdila(à esq. na foto)
eRegina Casé
interpretammãe efilha
emQue horasela volta?
seipor esse processo no filmeQue horas ela
volta?.Nos 20 anosemque trabalhei naque-
le roteiro,passei por várias hipóteses, inclu-
sive esta —deque oestigma da escravidão
éimpossível de ser quebrado. Énatural, pa-
ra oautor branco —que teve empregada e
não foi filho de empregada —, fazer sua de-
núncia social por este viés: aquela mulher
merecetodoonossoamor, masinfelizmen-
te ela não vaiconseguirsair daquelelugar.
Nesse sentido,Romaéumfilme que reafir-
ma ostatu quo.Ocineastapoderá dizer: “É
comoacontece na realidade”.
Que horas elavolta?éumfilme infinita-
mente mais modestodo ponto de vista for-
mal, mas, para mim, no que concerne ao
tratamento dado àpersonagem,ele está um
passo àfrente. Embora ambas as persona-
gens ocupemomesmo lugar social no início
da trama, emQue horas elavolta?aprotago-
nista chega ao final conseguindodar um
passo libertadorao priorizarsua própria fa-
mília em vez da família dos patrões. Osenti-
mento do espectador,quandotermina deverQue horas elavolta?,édecomoçãoees-
perança.Éumfilme solar eotimista.Já no
final deRoma,você está despedaçado, tem
pena da personagem. Aprotagonista sofre
um drama econtinua tudo no mesmo lugar.
Agente se identifica com ela pelo desampa-
ro.Nesse sentido,Que horas elavolta?acaba
sendo mais transgressor.
Entre os filmes latino-americanos sobre
empregadas, acho queQue horas elavolta?,
de forma geral, está menos alinhadocom
Romaemais com oargentinoCama aden-
tro(2004),cuja produçãoémodesta, mas
cujo final étransformador,além de bem-
humorado.Comparações, semelhançasedi-
ferenças àparte, creio queRomavaifazer
história na próxima festadoOscar,levando
para oMéxico,epara aNetflix, várias esta-
tuetas —senão várias, com certeza adedi-
reçãodefotografia, para otambém diretor
Alfonso Cuarón.REPRODUÇÃO
Anna Muylaertédiretora eroteirista deQue horas
ela volta?,filme de 2015que contaasrelações de uma
empregadadoméstica brasileira com seus patrões